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Anais Semana de História 2005 - Campus de Três Lagoas

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[...] um dos homens da mareação se <strong>de</strong>spiu nu botando-se<br />

a nado subiu sobre uma Pedra no meio da<br />

Cachoeira para servir <strong>de</strong> vigia, e dar sinal com os<br />

braços por on<strong>de</strong> haviam <strong>de</strong> passar as Embarcações<br />

vazias, as quais se passaram com os Pilotos dobrados,<br />

e todos nus pela razão <strong>de</strong> que dando uma <strong>de</strong>stas<br />

Embarcações em alguma Pedra, ou per<strong>de</strong>ndo o<br />

equilíbrio da correnteza, fogem estes homens nadando,<br />

e a Embarcação se faz em pedaços. (Apud<br />

TAUNAY, 1961, p.34)<br />

Parece razoável supor que foram as razões econômicas que levaram<br />

não poucos a recorrerem a um processo que se aproxima bastante<br />

daquele <strong>de</strong> que fala o antropólogo Ulf Hannerz: a “<strong>de</strong>culturação”,<br />

isto é, o <strong>de</strong>spojar-se <strong>de</strong> uma sobrecarga <strong>de</strong> cultura para ganhar em<br />

liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimento, inovação, criativida<strong>de</strong> e experiência (HANNERZ,<br />

1997, p. 24). Saber caçar, por exemplo, tornou-se uma necessida<strong>de</strong><br />

vital. Pois as monções saíam, geralmente, com as cargas <strong>de</strong> mantimentos<br />

em quantida<strong>de</strong> muito menor do que era preciso. Isto <strong>de</strong>vido ao<br />

empobrecimento generalizado produzido pelo pagamento do exclusivo<br />

colonial e pela quase inexistência <strong>de</strong> roças nas margens do percurso<br />

monçoeiro, <strong>de</strong>struídas como eram pelos grupos étnicos nativos em<br />

<strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> seus territórios. Além disso, já pelo final do século XVIII,<br />

muito do mantimento levado era <strong>de</strong>stinado aos fortes militares da fronteira.<br />

3 A caça era, <strong>de</strong> fato, uma ativida<strong>de</strong> enormemente apreciada entre<br />

a mareagem das monções, como uma espécie <strong>de</strong> jogo no qual se concorre<br />

para <strong>de</strong>monstrar que se é o mais prático nas coisas do sertão.<br />

Lara e Ordonhes, que como bom nobre português tinha predileção pelo<br />

esporte da caça, ficou impressionado com a importância que a<br />

mareagem dava para isto.<br />

Há manadas <strong>de</strong> veados brancos, galheiros, dos quais<br />

se matam bastante para o que são doidos e apaixonadíssimos<br />

os seguidores daquele caminho que não<br />

conversão noutra coisa; tanto que o meu Piloto que se<br />

prezava <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> atirador, e que estimava muito uma<br />

arma que tinha, não jantou um dia com a paixão <strong>de</strong> ter<br />

atirado dois galheiros, e não matar nenhum. (LARA E<br />

ORDENHES, apud TAUNAY, 1961, p.231)<br />

O hábito da caça sofreu enorme influência indígena. O Con<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Azambuja, D. Antonio Rolim, também um nobre afeito ao esporte da<br />

caça, estranhou a técnica empregada pela sua tripulação, que consistia<br />

no ataque camuflado.<br />

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