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Anais Semana de História 2005 - Campus de Três Lagoas

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cuja condução se experimentam vários <strong>de</strong>scômodos,<br />

não só em cargas que arrombam e furtam, como nos<br />

mantimentos que se per<strong>de</strong>m; que nesta altura é a<br />

perda mais sensível, e tanto mais se quer antes per<strong>de</strong>r<br />

um negro, sendo estes tão necessários, que um<br />

alqueire <strong>de</strong> mantimento, feijão ou farinha. (REBELO,<br />

apud TAUNAY, 1961, p. 123).<br />

POPULAÇÃO MESTIÇA, CULTURAS HÍBRIDAS<br />

A divisão social do trabalho das populações envolvidas no movimento<br />

das monções conta com um número muito maior <strong>de</strong> trabalhadores<br />

livres do que <strong>de</strong> trabalhadores escravos. A presença <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>obra<br />

escrava nas viagens monçoeiras estava restrita a comboios numerosos,<br />

nos quais migravam alguns comerciantes ou indivíduos empreen<strong>de</strong>dores<br />

com sua escravaria. Ou ainda, às viagens dos capitães generais.<br />

Alguns fatores explicam a não predominância do trabalho escravo<br />

na mareagem monçoeira. Primeiro, porque as vilas <strong>de</strong> Araraitaguaba<br />

e Itu, fornecedoras do contingente populacional que se ocupava das<br />

monções, só viriam a contar com uma expansão significativa da população<br />

escrava nas décadas finais do século XVIII, com a introdução das<br />

lavouras <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar. Nos anos seguintes, essas regiões, que<br />

<strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> fitar o sertão remoto para direcionar seus olhares para o<br />

oceano, embora contassem com mais escravos, utilizavam-nos na lida<br />

dos engenhos, não propiciando <strong>de</strong> modo algum o incremento do transporte<br />

fluvial.(SILVA, 2004) Este era um trabalho pouco rentável e tinha<br />

se tornado <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a regularização da estrada <strong>de</strong> Goiás e das<br />

monções do Grão-Pará.<br />

Em segundo lugar, o elevado capital incorporado na pessoa do<br />

escravo tornava contraproducente sua utilização numa ativida<strong>de</strong> pouco<br />

rentável, progressivamente <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte e repleta <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

insurreição (como ilustrado acima), fuga, morte e seqüestro dos escravos<br />

(era fato amplamente conhecido, à época, que o grupo étnico Payaguá<br />

capturava os escravos levados pelas monções para vendê-los ou trocálos<br />

em Assunção).<br />

O trabalho da mareagem monçoeira era uma ativida<strong>de</strong> predominantemente<br />

realizada por homens livres. Os estudos realizados por<br />

Val<strong>de</strong>rez Silva sobre a documentação cartorial <strong>de</strong> fins do século XVIII,<br />

encontrada na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Porto Feliz, fornecem dados importantes sobre<br />

a filiação étnica dos trabalhadores envolvidos nas monções. A darse<br />

crédito para a auto-filiação étnica <strong>de</strong>clarada pelos indivíduos<br />

registrados no cartório, tem-se 10% <strong>de</strong> brancos e quase 90% <strong>de</strong> mes-<br />

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