Anais Semana de História 2005 - Campus de Três Lagoas

Retornando à pergunta que me leva a essa discussão, com relação
ao jogo eleitoral, apesar da pesquisa se encontrar ainda incipiente,
parece estar aí uma chave para a compreensão do afastamento posterior
dos sujeitos ligados aos movimentos à política partidária, pois tal
questão fora bastante discutida nos espaços onde estes sujeitos pensavam
e agiam.
É possível perceber, por exemplo, que existe, por parte do Iajes,
uma preocupação na possibilidade do povo apostar suas esperanças
exclusivamente no partido, no voto, na política. Publicado em 1982, o
segundo caderno de “Educação Política” divulgado pelo Iajes recebeu o
nome de “Mudar as Regras do Jogo” e contém não apenas a crítica
mais comum feita à corrupção e a falta de ética de partidos e políticos,
mas também uma crítica contundente ao próprio processo eleitoral no
âmbito das suas leis, das suas prerrogativas, dos meandros das elites
para que o processo se constitua como favorável à permanência dos
poderosos no poder. Até a forma da cédula é observada pelos sujeitos
como instrumento de inibição das classes populares. Ao exaltar esses
argumentos, o Iajes parece esquecer seu apoio majoritário ao partido-
PT, e escreve:
Ninguém salva o povo, a não ser o próprio povo organizado.
A esperança não é o Montoro nem o Jânio nem
o Lula. A esperança é a organização do povo: nas
SAB’s, nas comissões de lutas populares, no Movimento
dos Sem Terra, nos sindicatos (autênticos) e
nas associações. Povo unido é povo organizado. Povo
organizado pode mudar as regras do jogo. As eleições
são apenas um momento (DOCUMENTOS Iajes,
Educação Política nº 2, 1982, p.02).
Ainda em 1982, uma fala a respeito das ações do PT diante do
jogo eleitoral chama a atenção, pois evidencia o incômodo que as regras
do jogo causa nesses sujeitos. É da equipe do Iajes a reportagem
donde foi tirado o trecho em que a respeito do PT, novamente se exaltou
o “basismo” e a “continuidade das lutas populares”, contudo assinalou-se,
com relação ao processo eleitoral: “(o PT) teve que entrar por
força das circunstâncias no jogo eleitoral, aceitando as regras impostas
pela situação e pelas exigências da campanha” (JORNAL DA RE-
GIÃO, 24/10/1982).
Durante toda a década de 1980, o Iajes publicou cartilhas e panfletos
alertando a população sobre o jogo eleitoral, sobre as implicações
da Lei falcão, da proporcionalidade, das dificuldades impostas ao
povo mais simples, aos analfabetos, e também aos problemas da
corrupção, da riqueza das campanhas, etc...
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