14.01.2015 Views

Anais Semana de História 2005 - Campus de Três Lagoas

Anais Semana de História 2005 - Campus de Três Lagoas

Anais Semana de História 2005 - Campus de Três Lagoas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Os incômodos das picadas abertas por terra para a varação são<br />

<strong>de</strong>scritos com realismo dramático por Juzarte.<br />

[...] abrindo-se picada pelo mato para ir a sair abaixo<br />

da dita cachoeira, sofrendo muito trabalho e incômodo,<br />

carregando-se os doentes sofrendo-se muitas<br />

mordi<strong>de</strong>las <strong>de</strong> mosquitos, e Bernes na passagem pelo<br />

mato [...] a maior parte dos que passamos por terra<br />

nos achamos cheios dos tais carrapatinhos, que <strong>de</strong>spindo-nos,<br />

nus, nos esfregávamos uns aos outros,<br />

uns com bola <strong>de</strong> cera da terra, e outros com caldo <strong>de</strong><br />

tabaco <strong>de</strong> fumo, as mulheres lá se remediavam umas<br />

com as outras, e todos conforme podiam, e permitia a<br />

ocasião. (JUZARTE, apud TAUNAY, 1961, p. 251)<br />

A carta do Autor Anônimo, escrita em 1746, narra uma viagem <strong>de</strong><br />

Araraitaguaba a Cuiabá. A mareagem era composta, nesta expedição,<br />

basicamente <strong>de</strong> escravos, situação que não era muito comum nas<br />

monções, embora eventualmente os escravos estivessem presentes<br />

nas canoas para a realização <strong>de</strong> outros trabalhos, como a abertura <strong>de</strong><br />

picadas, o transporte <strong>de</strong> cargas, ou mesmo <strong>de</strong>stinados à mineração,<br />

quando chegassem a Cuiabá. Transparecem nas afirmações do autor<br />

as ações empreendidas pelos escravos no sentido <strong>de</strong> estabelecer algum<br />

controle sobre o ritmo <strong>de</strong> trabalho e a distribuição da comida.<br />

Afirma a carta quando da passagem do rio Tietê ao Paraná:<br />

[...] tive uma emborcação [e] molhou-se mantimento e<br />

a fazenda; quis falhar para enxugar mas a minha tropa<br />

não quis <strong>de</strong>morar nada; os negros tanto remam para<br />

diante como para trás, se ilha, dava, não os tenha para<br />

me remarem ou bem ou mal acima; [...] o trabalho dos<br />

varadouros me amofinava e os negros quando varavam<br />

as cargas metiam-se em matos e consumiamnas.<br />

(AUTOR ANÔNIMO, apud TAUNAY, 1961, p. 190)<br />

A astúcia dos escravos, flagrante no furto e consumo <strong>de</strong> mantimentos<br />

das canoas monçoeiras, <strong>de</strong>veria ser uma prática generalizada,<br />

pois mesmo quando da viagem do governador Rodrigo César a Cuiabá,<br />

em 1726, viagem que <strong>de</strong>veria ser bem equipada militarmente, tais furtos<br />

ocorreram. Como relata Rebelo, que participou da mencionada viagem,<br />

o varadouro <strong>de</strong> Camapuã, pelo qual se passa por terra com canoas e<br />

cargas às costas dos escravos, é teatro propício para tais práticas.<br />

Neste varadouro <strong>de</strong> canoas e cargas, morte <strong>de</strong> brancos<br />

e negros, consumo <strong>de</strong> mantimentos e <strong>de</strong>struição<br />

<strong>de</strong> tudo, [...] [se leva] em umas pequenas carretas as<br />

canoas puxando <strong>de</strong>las mais <strong>de</strong> 20 e 30 negros, em<br />

228

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!