o-homem-e-os-seus-desejos-em-conflito-j-krishnamurti
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nazmente o seu especial padrão de pensamento. Todas essas coisas<br />
se tornam hábit<strong>os</strong>; e a mente g<strong>os</strong>ta de viver mergulhada n<strong>os</strong> hábit<strong>os</strong>,<br />
porquanto <strong>os</strong> hábit<strong>os</strong> dão-n<strong>os</strong> certeza, sentimento de segurança,<br />
sentimento de não t<strong>em</strong>erm<strong>os</strong>. Uma vez firmada numa série de hábit<strong>os</strong>,<br />
a mente parece funcionar um pouco mais livr<strong>em</strong>ente, mas na<br />
realidade ela é irrefletida, desatenta.<br />
Não v<strong>os</strong> limiteis a ouvir minhas palavras, mas observai, como<br />
num espelho, a v<strong>os</strong>sa própria mente, para verdes quanto está enredada<br />
<strong>em</strong> <strong>seus</strong> hábit<strong>os</strong>. Os hábit<strong>os</strong>, que dão o sentimento de segurança,<br />
só pod<strong>em</strong> tornar a mente <strong>em</strong>botada; por mais sutis que eles sejam,<br />
e quer estejam<strong>os</strong> cientes deles, quer não, eles invariavelmente<br />
obscurec<strong>em</strong> a mente. Isso é um fato psicológico; quer g<strong>os</strong>teis, quer<br />
não, é isso que acontece.<br />
Em parte devido a n<strong>os</strong>sa educação escolar, <strong>em</strong> parte devido ao<br />
condicionamento que a sociedade psicologicamente n<strong>os</strong> impõe, e<br />
também <strong>em</strong> virtude de n<strong>os</strong>sa própria indolência, a n<strong>os</strong>sa mente funciona<br />
numa série de hábit<strong>os</strong>. Se não aprovam<strong>os</strong> determinado hábito<br />
de que estam<strong>os</strong> conscientes, lutam<strong>os</strong> para quebrá-lo, e quando quebram<strong>os</strong><br />
um hábito formam<strong>os</strong> outro. Parece não haver momento <strong>em</strong><br />
que estejam<strong>os</strong> livres do hábito. Se v<strong>os</strong> observardes, vereis quanto v<strong>os</strong><br />
é difícil não v<strong>os</strong> enredardes no hábito.<br />
Consider<strong>em</strong><strong>os</strong> um hábito muito simples, que muita gente t<strong>em</strong>:<br />
o de fumar. Se fumais e desejais abandonar o fumo, a idéia de abandoná-lo<br />
cria uma resistência contra o fumar; por conseguinte, há um<br />
<strong>conflito</strong> entre o hábito e o desejo de quebrá-lo. Agora, mediante <strong>conflito</strong><br />
ou resistência podeis eliminar um certo hábito, mas isso não liberta<br />
v<strong>os</strong>sa mente do processo formador de hábit<strong>os</strong>; o mecanismo<br />
que <strong>os</strong> cria não deixa de existir. E eu estou falando, não como livrarn<strong>os</strong><br />
de determinado hábito, porém sobre o deixarm<strong>os</strong> de criar hábit<strong>os</strong>.<br />
Não sei se já v<strong>os</strong> observastes no ato de fumar. Com “ observarv<strong>os</strong>”<br />
quero dizer “ estardes consciente de cada movimento que fazeis” :<br />
como a v<strong>os</strong>sa mão vai ao bolso, retira um cigarro, coloca-o na boca,<br />
volta ao bolso para apanhar <strong>os</strong> fósfor<strong>os</strong>, acende o cigarro; e como,<br />
então, “ puxais umas fumaças” e atirais fora o fósforo. O importante<br />
é dar-v<strong>os</strong> conta de todo esse processo, s<strong>em</strong> resistir-lhe, s<strong>em</strong> rejeitálo,<br />
s<strong>em</strong> desejardes ficar livre dele — estando, apenas, inteirado de<br />
cada movimento inerente a esse hábito.<br />
De modo idêntico, podeis estar cônscio do hábito da inveja, do<br />
hábito de adquirir, do hábito do medo; e então, observando, pode<br />
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