o-homem-e-os-seus-desejos-em-conflito-j-krishnamurti
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Para compreender o medo, precisam<strong>os</strong> compreender o t<strong>em</strong>po.<br />
Não me refiro ao t<strong>em</strong>po medido pelo relógio, ao t<strong>em</strong>po cronológico;<br />
este é bastante simples, mecânico, e nele não há muito para compreender.<br />
Refiro-me ao t<strong>em</strong>po psicológico: o recordar <strong>os</strong> dias passad<strong>os</strong>,<br />
todas as coisas que conhec<strong>em</strong><strong>os</strong>, sentim<strong>os</strong>, gozam<strong>os</strong>, recolh<strong>em</strong><strong>os</strong><br />
e armazenam<strong>os</strong> na m<strong>em</strong>ória. A l<strong>em</strong>brança do passado molda-n<strong>os</strong><br />
o presente, o qual, por sua vez, se projeta no futuro. Todo esse processo<br />
é t<strong>em</strong>po psicológico, <strong>em</strong> que está aprisionado o pensamento.<br />
O pensamento é o resultado de ont<strong>em</strong>, atravessando o dia de hoje,<br />
para amanhã. O pensamento sobre o futuro está condicionado pelo<br />
presente, e este, a seu turno, está condicionado pelo passado.<br />
Constitui-se o passado das coisas que a mente consciente aprendeu<br />
na escola, d<strong>os</strong> <strong>em</strong>preg<strong>os</strong> que exerceu, do conhecimento técnico<br />
que adquiriu, etc., e tudo isso faz parte do processo mecânico da<br />
l<strong>em</strong>brança; mas ele é também constituído de conhecimento psicológico,<br />
isto é, das coisas que o indivíduo experimentou e guardou, das<br />
l<strong>em</strong>branças ocultas nas profundezas do inconsciente. À maioria de<br />
nós falta t<strong>em</strong>po para investigar o inconsciente, pois estam<strong>os</strong> s<strong>em</strong>pre<br />
muito ocupad<strong>os</strong>, completamente entregues a n<strong>os</strong>sas diárias atividades;<br />
assim, o inconsciente transmite-n<strong>os</strong> várias sugestões e mensagens, na<br />
forma de sonh<strong>os</strong>, e esses sonh<strong>os</strong> requer<strong>em</strong> interpretação.<br />
Tudo isso — tanto o processo consciente como o inconsciente<br />
— é t<strong>em</strong>po psicológico: t<strong>em</strong>po como conhecimento, t<strong>em</strong>po como<br />
experiência, t<strong>em</strong>po como distância entre o que é e o que deveria ser,<br />
t<strong>em</strong>po como meio de “chegar” , lograr êxito, preencher-se, “vir a ser” .<br />
A mente consciente é moldada pela inconsciente; e é muito difícil<br />
compreender <strong>os</strong> secret<strong>os</strong> motiv<strong>os</strong>, intenções e compulsões do inconsciente,<br />
porque não som<strong>os</strong> capazes de conseguir acesso ao inconsciente<br />
pelo esforço consciente. É negativamente que dev<strong>em</strong><strong>os</strong> abeirar-n<strong>os</strong><br />
dele, e não pelo processo p<strong>os</strong>itivo da análise. O analista está<br />
condicionado pelas suas l<strong>em</strong>branças; e seu método p<strong>os</strong>itivo de abeirar-se<br />
de uma coisa que ele não conhece, e de cuja existência não<br />
está plenamente cônscio, é muito pouco significativo.<br />
Analogamente, t<strong>em</strong><strong>os</strong> de abeirar-n<strong>os</strong> da morte de maneira negativa,<br />
porquanto não sab<strong>em</strong><strong>os</strong> o que ela é. T<strong>em</strong><strong>os</strong> visto outras pessoas<br />
morrer<strong>em</strong>. Sab<strong>em</strong><strong>os</strong> que há morte por doença, por velhice e declínio,<br />
morte por acidente e morte prop<strong>os</strong>itada; mas não sab<strong>em</strong><strong>os</strong> realmente<br />
o que significa morrer. Pod<strong>em</strong><strong>os</strong> racionalizar a morte. Vendo a velhice<br />
aproximar-se de nós — o gradual enfraquecimento da mente,<br />
perda de m<strong>em</strong>ória, etc. etc. dir<strong>em</strong><strong>os</strong>, porventura: “ Ora, a vida é um<br />
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