10.04.2017 Views

o-homem-e-os-seus-desejos-em-conflito-j-krishnamurti

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

mento de “ culpa” , porém com o propósito de compreender essa<br />

extraordinária paixão que s<strong>em</strong>pre leva ao sofrimento.<br />

Quando a paixão t<strong>em</strong> causa, toma-se luxúria. Quando há paixão<br />

por alguma coisa — por uma pessoa, por uma idéia, por uma<br />

certa espécie de preenchimento — então, dessa paixão resulta contradição,<br />

<strong>conflito</strong>, esforço. Lutais para alcançar ou para conservar<br />

um certo estado, ou para recuperar outro estado que existiu e se<br />

foi. Mas a paixão a que me refiro não dá nascimento à contradição,<br />

ao <strong>conflito</strong>. Não está <strong>em</strong> relação com nenhuma causa e, por conseguinte,<br />

não é um efeito.<br />

Deixai-me sugerir-v<strong>os</strong> que escuteis, simplesmente; não tenteis<br />

alcançar esse estado de intensidade, essa paixão que não t<strong>em</strong> causa.<br />

Se puderm<strong>os</strong> escutar atentamente, com aquela naturalidade que se<br />

verifica quando a atenção não é forçada por meio de disciplina, porém<br />

nascida do simples impulso para compreender, penso que então<br />

descobrir<strong>em</strong><strong>os</strong> por nós mesm<strong>os</strong> o que é paixão.<br />

Há, na maioria de nós, pouquíssima paixão. Pod<strong>em</strong><strong>os</strong> ser lasciv<strong>os</strong>,<br />

pod<strong>em</strong><strong>os</strong> estar ansiando por alguma coisa, desejando fugir de<br />

alguma coisa, e tudo isso n<strong>os</strong> confere uma certa intensidade. Mas,<br />

se não estam<strong>os</strong> despert<strong>os</strong> e não buscam<strong>os</strong> acesso a essa chama da<br />

“paixão s<strong>em</strong> causa”, nunca ser<strong>em</strong><strong>os</strong> capazes de compreender aquilo<br />

que chamam<strong>os</strong> sofrimento. Para compreender algo precisam<strong>os</strong> de paixão,<br />

da intensidade da atenção completa. Onde há paixão por alguma<br />

coisa, a qual produz contradição, <strong>conflito</strong>, não pode existir aquela<br />

chama pura da paixão; e aquela chama pura da paixão precisa existir,<br />

para que p<strong>os</strong>sam<strong>os</strong> pôr fim ao sofrimento, dissipá-lo completamente.<br />

Sab<strong>em</strong><strong>os</strong> que o sofrimento é um resultado, o efeito de uma<br />

causa. Amo alguém e essa pessoa não me ama — esta é uma espécie<br />

de sofrimento. Desejo preencher-me num certo sentido, mas para<br />

tanto não p<strong>os</strong>suo capacidade; ou, se tenho capacidade, o mau estado<br />

de saúde ou outro fator qualquer impede-me o preenchimento — eis<br />

outra forma de amargura. Existe o sofrer da mente medíocre, da<br />

mente que está s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> <strong>conflito</strong> íntimo, incessant<strong>em</strong>ente lutando,<br />

ajustando-se, tateando, submetendo-se. Há o sofrimento ocasionado<br />

pelo <strong>conflito</strong> nas relações, e o motivado pela morte de alguém. B<strong>em</strong><br />

conhec<strong>em</strong><strong>os</strong> essas diferentes formas de sofrer, e todas elas resultam<br />

de uma causa.<br />

Ora, nós nunca enfrentam<strong>os</strong> o próprio sofrimento; s<strong>em</strong>pre tratam<strong>os</strong><br />

de racionalizá-lo, explicá-lo; ou t<strong>em</strong><strong>os</strong> um dogma, um padrão<br />

153

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!