o-homem-e-os-seus-desejos-em-conflito-j-krishnamurti
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mento de “ culpa” , porém com o propósito de compreender essa<br />
extraordinária paixão que s<strong>em</strong>pre leva ao sofrimento.<br />
Quando a paixão t<strong>em</strong> causa, toma-se luxúria. Quando há paixão<br />
por alguma coisa — por uma pessoa, por uma idéia, por uma<br />
certa espécie de preenchimento — então, dessa paixão resulta contradição,<br />
<strong>conflito</strong>, esforço. Lutais para alcançar ou para conservar<br />
um certo estado, ou para recuperar outro estado que existiu e se<br />
foi. Mas a paixão a que me refiro não dá nascimento à contradição,<br />
ao <strong>conflito</strong>. Não está <strong>em</strong> relação com nenhuma causa e, por conseguinte,<br />
não é um efeito.<br />
Deixai-me sugerir-v<strong>os</strong> que escuteis, simplesmente; não tenteis<br />
alcançar esse estado de intensidade, essa paixão que não t<strong>em</strong> causa.<br />
Se puderm<strong>os</strong> escutar atentamente, com aquela naturalidade que se<br />
verifica quando a atenção não é forçada por meio de disciplina, porém<br />
nascida do simples impulso para compreender, penso que então<br />
descobrir<strong>em</strong><strong>os</strong> por nós mesm<strong>os</strong> o que é paixão.<br />
Há, na maioria de nós, pouquíssima paixão. Pod<strong>em</strong><strong>os</strong> ser lasciv<strong>os</strong>,<br />
pod<strong>em</strong><strong>os</strong> estar ansiando por alguma coisa, desejando fugir de<br />
alguma coisa, e tudo isso n<strong>os</strong> confere uma certa intensidade. Mas,<br />
se não estam<strong>os</strong> despert<strong>os</strong> e não buscam<strong>os</strong> acesso a essa chama da<br />
“paixão s<strong>em</strong> causa”, nunca ser<strong>em</strong><strong>os</strong> capazes de compreender aquilo<br />
que chamam<strong>os</strong> sofrimento. Para compreender algo precisam<strong>os</strong> de paixão,<br />
da intensidade da atenção completa. Onde há paixão por alguma<br />
coisa, a qual produz contradição, <strong>conflito</strong>, não pode existir aquela<br />
chama pura da paixão; e aquela chama pura da paixão precisa existir,<br />
para que p<strong>os</strong>sam<strong>os</strong> pôr fim ao sofrimento, dissipá-lo completamente.<br />
Sab<strong>em</strong><strong>os</strong> que o sofrimento é um resultado, o efeito de uma<br />
causa. Amo alguém e essa pessoa não me ama — esta é uma espécie<br />
de sofrimento. Desejo preencher-me num certo sentido, mas para<br />
tanto não p<strong>os</strong>suo capacidade; ou, se tenho capacidade, o mau estado<br />
de saúde ou outro fator qualquer impede-me o preenchimento — eis<br />
outra forma de amargura. Existe o sofrer da mente medíocre, da<br />
mente que está s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> <strong>conflito</strong> íntimo, incessant<strong>em</strong>ente lutando,<br />
ajustando-se, tateando, submetendo-se. Há o sofrimento ocasionado<br />
pelo <strong>conflito</strong> nas relações, e o motivado pela morte de alguém. B<strong>em</strong><br />
conhec<strong>em</strong><strong>os</strong> essas diferentes formas de sofrer, e todas elas resultam<br />
de uma causa.<br />
Ora, nós nunca enfrentam<strong>os</strong> o próprio sofrimento; s<strong>em</strong>pre tratam<strong>os</strong><br />
de racionalizá-lo, explicá-lo; ou t<strong>em</strong><strong>os</strong> um dogma, um padrão<br />
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