o-homem-e-os-seus-desejos-em-conflito-j-krishnamurti
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Voltando à pergunta — A paixão ou intensidade é uma qualidade?<br />
— não g<strong>os</strong>to do <strong>em</strong>prego da palavra “ qualidade” . Quando<br />
estais “ apaixonado” , <strong>em</strong> relação a alguma coisa, não perguntais se<br />
isso é uma qualidade, perguntais? Vós v<strong>os</strong> achais naquele estado.<br />
Quando sentis cólera, ou lascívia, ou quando verbalmente tratais alguém<br />
com brutalidade, não perguntais nesse momento se o que sentis<br />
é uma “ qualidade” . Estais todo <strong>em</strong> chamas. Mas, mais tarde, dizeis:<br />
“Por Deus, foi um momento terrível” — e isso se toma então algó<br />
que cumpre evitar no futuro. Ou, se foi um belo momento, tratais<br />
de cultivá-lo; mas tudo o que se cultiva é artificial, não é uma coisa<br />
pura.<br />
Ora, a paixão, ou intensidade, a cujo respeito estive falando,<br />
não é cultivável, não se acha à venda no mercado, não se pode<br />
comprar com a prática ou a disciplina; mas, se escutastes e verdadeiramente<br />
penetrastes <strong>em</strong> vós mesm<strong>os</strong>, se v<strong>os</strong> <strong>em</strong>penhastes deveras <strong>em</strong><br />
compreendê-la, sabereis o que ela é. Essa paixão nada t<strong>em</strong> <strong>em</strong> comum<br />
com o entusiasmo. Só desponta depois da completa cessação<br />
do “ eu” , depois de abandonada a idéia de “ minha casa” , “ minhas<br />
p<strong>os</strong>ses” , “ minha pátria” , “ minha mulher” , “ meus filh<strong>os</strong>” . Agora direis,<br />
talvez: “Então não vale a pena ter essa paixão” . Talvez para<br />
vós não valha a pena. Só vale quando, efetivamente, desejam<strong>os</strong> descobrir<br />
o que é o sofrimento, o que é a verdade, o que é Deus, qual<br />
o significado de toda esta terrível e confusa lida da existência. Se esta<br />
questão realmente v<strong>os</strong> concerne, então deveis examiná-la com paixão<br />
— e isso significa que não podeis estar vinculado à v<strong>os</strong>sa família.<br />
Podeis ter v<strong>os</strong>sa casa, v<strong>os</strong>sa família, mas se psicologicamente lhes<br />
estais vinculado, nunca passareis além.<br />
PER G U N TA: T<strong>em</strong><strong>os</strong> tod<strong>os</strong> a mesma capacidade de paixão?<br />
KRISH N AM U RTI: Eu não considero a paixão uma “ capacidade” .<br />
Podeis ter aptidão para escrever livr<strong>os</strong>, compor poesias, tocar flauta,<br />
ou para muitas outras coisas; e as aptidões pod<strong>em</strong> ser cultivadas,<br />
mantidas, acrescentadas. Mas a paixão, a intensidade, não é uma<br />
aptidão. Pelo contrário, se tendes alguma capacidade, deveis morrer<br />
para ela, a fim de roderdes “ apaixonar-v<strong>os</strong>” . Se não morreis para<br />
a capacidade, ela se torna mecânica, ainda que a aprimoreis e dela<br />
façais uso hábil. Vede, estam<strong>os</strong> ainda pensando <strong>em</strong> term<strong>os</strong> de aquisição,<br />
e cuidando de proteger o que adquirim<strong>os</strong>.<br />
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