o-homem-e-os-seus-desejos-em-conflito-j-krishnamurti
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A mente que se vê isolada, e com medo, está à mercê de inumeráveis<br />
influências; como um pedaço de barro, ela é maleável, pode ser<br />
modelada, ser forçada a ajustar-se a um molde. Mas, solidão é a mente<br />
livre de qualquer influência: influência da esp<strong>os</strong>a, do marido, da<br />
tradição, da igreja, do Estado. Ela significa estar libertado da influência<br />
de leituras e das próprias e inconscientes exigências. Por outras<br />
palavras, solidão é a completa libertação do passado. É o “ estado de<br />
aprender” que surge quando a mente compreende o processo total da<br />
vida; daí v<strong>em</strong> uma disciplina que não é a disciplina da Igreja, ou do<br />
exército, ou do especialista, ou do atleta, ou do <strong>hom<strong>em</strong></strong> que cultiva<br />
o saber. É a disciplina nascida de um profundo senso de humildade; e<br />
não pode haver humildade, se a mente não está completamente só.<br />
O que até agora se disse é razoável, lógico, são, saudável, e se<br />
compreend<strong>em</strong><strong>os</strong> as palavras e lhes aprofundam<strong>os</strong> o sentido, não terá<br />
havido dificuldade <strong>em</strong> apreenderdes <strong>os</strong> dizeres do orador. Mas é necessário<br />
mais, muito mais do que isso. O exp<strong>os</strong>to s<strong>em</strong>elha o lançamento<br />
d<strong>os</strong> alicerces de uma casa — só <strong>os</strong> alicerces, e nada mais. Mas<br />
esses alicerces precisam ser lançad<strong>os</strong>, e lançad<strong>os</strong> com ardor, intensidade,<br />
beleza e, por conseguinte, com amor. Não pod<strong>em</strong> ser lançad<strong>os</strong><br />
sob o impulso do desespero, do <strong>conflito</strong>, ou do desejo de alcançar um<br />
certo e estulto resultado, porque então a mente não se acha num<br />
estado livre do conhecido, do passado.<br />
Não sei se já alguma vez notastes como acumulais, como v<strong>os</strong>sa<br />
mente se aferra a inumeráveis e insignificantes experiências. A mente<br />
fornece o terreno no qual as experiências passageiras cravam raízes e<br />
continuam a moldá-la. Quase toda experiência deixa sua marca, e a<br />
experiência, por conseguinte, só pode perpetuar a limitação da mente.<br />
Mas, após lançar <strong>os</strong> alicerces corret<strong>os</strong>, pela percepção e compreensão<br />
de que esse processo constitui sua própria limitação, a mente — com<br />
toda a facilidade, s<strong>em</strong> <strong>conflito</strong> algum — se liberta do “ conhecido” e<br />
nasce, daí, um movimento que é criação.<br />
Na maioria, buscam<strong>os</strong> Deus, e n<strong>os</strong>so Deus é uma mera questão<br />
de crença. A palavra God (Deus) escrita às avessas é dog (cachorro),<br />
e esta última serve tão b<strong>em</strong> como a primeira para designar aquilo que<br />
chamam<strong>os</strong> Deus. Mas, fom<strong>os</strong> educad<strong>os</strong>, desde a meninice, para aceitar<br />
aquela palavra; e a religião organizada com sua milenária propaganda,<br />
condiciona a mente para crer naquilo que se supõe que a palavra representa.<br />
E aceitam<strong>os</strong> tal crença com tanta facilidade, exatamente<br />
como no mundo comunista aceitam a crença de que não há Deus,<br />
porque nessa crença foram eles educad<strong>os</strong>. Esse é um outro gênero de<br />
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