o-homem-e-os-seus-desejos-em-conflito-j-krishnamurti
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O que, <strong>em</strong> geral, se chama cont<strong>em</strong>plação subentende um centro<br />
de onde cont<strong>em</strong>plar, significa pôr-se num estado adequado para receber,<br />
aceitar, e isso, mais uma vez, não é meditação.<br />
Para lançar as bases da meditação, a pessoa t<strong>em</strong> de compreender<br />
tudo isso, para que não haja medo, n<strong>em</strong> aflição, n<strong>em</strong> motivo,<br />
n<strong>em</strong> esforço de espécie alguma. Mas se deixais de forcejar porque<br />
alguém v<strong>os</strong> diz que não o deveis fazer, nesse caso estais tentando<br />
“produzir” aquele estado <strong>em</strong> que não há esforço — e esse estado<br />
não pode ser produzido; tendes de compreender toda a estrutura do<br />
esforço, porque só então tereis lançado as bases da meditação. Essa<br />
base não é fragmentária, não é uma coisa que se constrói gradualmente,<br />
com o pensamento, com o desejo de êxito, de realização, ou<br />
com a esperança de experimentar algo mais amplo, superior. Tudo<br />
isso t<strong>em</strong> de cessar. E, lançada essa base, o cérebro se torna então<br />
completamente quieto. Já não está reagindo a qualquer espécie de<br />
influência ou sugestão; já cessou de ter visões; já não está enredado<br />
no passado ou por ele condicionado. Esse estado de quietude é absolutamente<br />
essencial. O cérebro é o resultado de sécul<strong>os</strong> de t<strong>em</strong>po. É<br />
o resultado biológico, zoológico, da influência, da cultura, de toda<br />
a estrutura psicológica da sociedade. E é só quando o cérebro está<br />
quieto, completamente imóvel, porém vivo, e não amortecido pela<br />
disciplina, pelo controle, pela repressão — é só então que a mente<br />
pode começar a operar. Mas essa absoluta quietude do cérebro não<br />
é um estado que se pode “ produzir” . Ela nasce, natural e facilmente,<br />
uma vez lançada a base, quando já não existe a divisão “ pensadorpensamento”<br />
.<br />
Tudo isso constitui parte da meditação; a meditação não se encontra<br />
no fim. “ Lançar a base” é ficar livre do medo, da aflição, do<br />
esforço, da inveja, da avidez, da ambição — livre de toda a estrutura<br />
psicológica da sociedade. Quando, graças ao autoconhecimento, o<br />
cérebro já não é uma máquina acumuladora, ele está quieto, tranqüilo,<br />
silenci<strong>os</strong>o. Deveis alcançar esse estado de silêncio, porque, do<br />
contrário, não sereis realmente uma pessoa religi<strong>os</strong>a. Estareis apenas<br />
brincando com coisas que nada significam. Podeis intitular-v<strong>os</strong> cristão,<br />
hinduísta, budista, o que quer que seja, mas estas palavras são<br />
mero resultado de propaganda e nenhum valor têm para o <strong>hom<strong>em</strong></strong><br />
verdadeiramente religi<strong>os</strong>o. Mas, quando há aquele estado de silêncio,<br />
torna-se então existente aquela inefável imensidade. Não há mais<br />
aceitação n<strong>em</strong> rejeição; não há entidade que experimenta a imensidade.<br />
Não há experimentador, e esta é a parte mais maravilh<strong>os</strong>a da<br />
coisa. Só há aquele movimento imenso, at<strong>em</strong>poral; e se chegardes<br />
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