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o-homem-e-os-seus-desejos-em-conflito-j-krishnamurti

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Assim, para compreender a morte, não verbal ou teoricamente,<br />

porém experimentá-la realmente, é preciso morrer para ont<strong>em</strong>, para<br />

todas as suas l<strong>em</strong>branças, as feridas psicológicas, a lisonja, o insulto,<br />

a mesquinhez, a inveja — é preciso morrer para tudo isso, quer dizer,<br />

morrer para si mesmo. Porque tudo isso é o que som<strong>os</strong>. E vereis<br />

então, se chegardes até aí, que existe uma solidão que não é<br />

isolamento. Solidão e isolamento são duas coisas diferentes. Mas<br />

não podeis alcançar a solidão, se não experimentardes até o fim e<br />

não compreenderdes esse estado de isolamento, <strong>em</strong> que as relações<br />

nada mais significam. V<strong>os</strong>sas relações com esp<strong>os</strong>a, marido, filho, filha,<br />

amig<strong>os</strong>, <strong>em</strong>prego — nenhuma delas já nenhum significado t<strong>em</strong><br />

ao sentirdes que estais completamente só. Estou certo de que alguns<br />

de vós já experimentastes esse estado. E quando fordes capazes de<br />

experimentá-lo até o fim e ultrapassá-lo, quando já não v<strong>os</strong> assustar<br />

a palavra “ só” , quando estiverdes morto para todas as coisas que<br />

conheceis, e a sociedade tiver deixado de influenciar-v<strong>os</strong>, conhecereis<br />

então “ a outra coisa” . A sociedade só poderá influenciar-v<strong>os</strong> enquanto<br />

a ela pertencerdes psicologicamente. A sociedade nenhuma<br />

influência pode exercer sobre vós, depois de cortardes o laço psicológico<br />

que a ela v<strong>os</strong> vincula. Estais então livre das garras da moralidade<br />

e respeitabilidade social. Mas o experimentar desse estado de<br />

solidão, até o fim, s<strong>em</strong> procurar fugir n<strong>em</strong> verbalizar — e isso significa<br />

“ficar com ele” , completamente — isso requer uma grande soma<br />

de energia. Necessitais de energia para poderdes viver com algo que<br />

é feio e não v<strong>os</strong> deixardes corromper por ele, assim como também<br />

necessitais de energia para viver com algo que é belo, e não v<strong>os</strong> deixardes<br />

ac<strong>os</strong>tumar. Essa energia não contaminada é a solidão que deveis<br />

alcançar; e, dessa negação, desse vazio total, surge a criação.<br />

Ora, s<strong>em</strong> dúvida, toda criação se verifica no vazio, e não quando<br />

a mente está cheia. A morte só t<strong>em</strong> significação ao morrerdes<br />

para todas as v<strong>os</strong>sas vaidades, superficialidades, todas as v<strong>os</strong>sas inumeráveis<br />

l<strong>em</strong>branças. Apresenta-se então algo que transcende o<br />

t<strong>em</strong>po, algo que não podereis alcançar se sentirdes medo, se estiverdes<br />

apegado a crenças, se estiverdes nas malhas do sofrimento.<br />

PER G U N TA: Que se entende por “ estar cônscio s<strong>em</strong> escolha” ?<br />

K RISH N A M U R TI: Não dev<strong>em</strong><strong>os</strong> atribuir exagerada significação<br />

à palavra “ cônscio” . “ Estar cônscio” não é nada misteri<strong>os</strong>o <strong>em</strong><br />

que devais exercitar-v<strong>os</strong>; não é uma coisa que só pode ser aprendida<br />

deste orador ou de um certo senhor de longas barbas. Tais coisas<br />

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