o-homem-e-os-seus-desejos-em-conflito-j-krishnamurti
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ladas condiciona n<strong>os</strong>sa futura reação a desafio. O que quer que a<br />
pessoa seja — mat<strong>em</strong>ático, dona-de-casa, etc. — a reação do passado,<br />
como conhecimento ou experiência acumulada, constitui nova<br />
experiência, e esta, por sua vez, fortalece o passado.<br />
T<strong>em</strong><strong>os</strong>, pois, essa carga acumulada de passadas experiências,<br />
tanto individuais como coletivas. Em qualquer sociedade que vivam<strong>os</strong>,<br />
lá está ela; é n<strong>os</strong>so fundo, n<strong>os</strong>sa tradição, n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> conheciment<strong>os</strong>,<br />
n<strong>os</strong>sa cultura. Esse fundo dita-n<strong>os</strong> s<strong>em</strong>pre n<strong>os</strong>sas ulteriores experiências,<br />
moldando <strong>os</strong> n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> pensament<strong>os</strong> e, assim, não há findar<br />
da experiência. Não v<strong>em</strong><strong>os</strong> p<strong>os</strong>sibilidade desse findar, porquanto diz<strong>em</strong><strong>os</strong><br />
para nós mesm<strong>os</strong>: “ Que seria a vida s<strong>em</strong> experiência?” Mas<br />
é o fundo de experiência que gera a ansiedade, o sentimento de desespero,<br />
o medo de não “ chegar” , não realizar. Sentimo-n<strong>os</strong> incomplet<strong>os</strong>,<br />
s<strong>em</strong> auto-suficiência, e, por isso, quer<strong>em</strong><strong>os</strong> mais e mais experiência<br />
— como meio de adquirirm<strong>os</strong> maior profundeza. Mas o conhecimento<br />
ou a experiência — se não me entenderdes mal — t<strong>em</strong> de<br />
acabar, se desejam<strong>os</strong> investigar completamente a questão do desespero.<br />
Há várias formas de desespero: o desespero de não serm<strong>os</strong><br />
capazes de preencher-n<strong>os</strong>, de não alcançarm<strong>os</strong> um alvo, de não serm<strong>os</strong><br />
alguém neste mundo, etc. Há também o desespero da solidão, e<br />
o desespero da interminável confusão. Não sabendo o que fazer,<br />
recorr<strong>em</strong><strong>os</strong> a alguém — um líder político, um líder religi<strong>os</strong>o, ou um<br />
líder científico — para que n<strong>os</strong> diga como agir e, mais cedo ou mais<br />
tarde, perceb<strong>em</strong><strong>os</strong> a total inutilidade de serm<strong>os</strong> instruíd<strong>os</strong> sobre o<br />
que dev<strong>em</strong><strong>os</strong> fazer. Incert<strong>os</strong> e desesperad<strong>os</strong> como estam<strong>os</strong>, amontoam<strong>os</strong><br />
experiência como conhecimento; mas o conhecimento não<br />
elimina o desespero, a experiência não dissipa o sentimento de ansiedade<br />
existente <strong>em</strong> n<strong>os</strong>sa vida.<br />
Dessarte, qual o significado da experiência, não só das pequenas<br />
experiências de cada dia, mas também das experiências profundas<br />
que t<strong>em</strong><strong>os</strong>? Um cristão ortodoxo, criado com certas crenças e dogmas,<br />
poderá ter uma visão do Cristo, e isso para ele é uma coisa maravilh<strong>os</strong>a;<br />
mas, psicologicamente, é óbvio que tais experiências são uma<br />
“projeção” de seu próprio fundo, de seu próprio condicionamento.<br />
Quando um hinduísta t<strong>em</strong> visões, vê <strong>os</strong> <strong>seus</strong> própri<strong>os</strong> deuses, e não<br />
o Cristo.<br />
Ora, é p<strong>os</strong>sível viver s<strong>em</strong> experiência? Para mim, o fundo de<br />
conhecimento ou experiência, com sua incessante exigência de mais<br />
experiência ainda, é a fonte de n<strong>os</strong>so desespero, porquanto não pode<br />
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