o-homem-e-os-seus-desejos-em-conflito-j-krishnamurti
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
significação têm para o <strong>hom<strong>em</strong></strong> que t<strong>em</strong> fome de descobrir por si<br />
mesmo o que é verdadeiro. Mas, infelizmente, a maioria de nós não<br />
t<strong>em</strong> fome nesse sentido. Estam<strong>os</strong> b<strong>em</strong> nutrid<strong>os</strong>, psicologicamente, porque<br />
estam<strong>os</strong> replet<strong>os</strong> de n<strong>os</strong>sas próprias experiências, e encontram<strong>os</strong><br />
um abrigo seguro no dogma, na crença. Sentimo-n<strong>os</strong> <strong>em</strong> segurança<br />
porque pertenc<strong>em</strong><strong>os</strong> a este ou àquele grupo, a esta ou àquela igreja. E<br />
quando n<strong>os</strong> v<strong>em</strong> um sentimento de descontentamento — o que muito<br />
raramente acontece — logo tratam<strong>os</strong> de sufocá-lo, procurando alguma<br />
coisa que dê satisfação imediata. O que t<strong>em</strong> verdadeira importância é<br />
estarm<strong>os</strong>, no plano psicológico, terrivelmente famint<strong>os</strong>, e permanecerm<strong>os</strong><br />
nesse estado, s<strong>em</strong> n<strong>os</strong> tornarm<strong>os</strong> insan<strong>os</strong> ou neurótic<strong>os</strong>. A questão<br />
não é de como aplacar aquela fome, porque no momento <strong>em</strong> que o<br />
fazeis estais perdido. Podeis aplacá-la muito facilmente, com palavras,<br />
com teorias, com livr<strong>os</strong>, com igrejas, com. . . oh!. . . com qualquer<br />
coisa. Mas, se permaneceis nesse estado de profunda “ fome psicológica”<br />
s<strong>em</strong> desesperar, ela é então como que uma chama viva que<br />
destruirá todas as coisas falsas até nada mais restar senão cinzas;<br />
e desse vazio, algo real pode nascer.<br />
PER G U N TA: A transformação de que falais se verifica pela<br />
ação da vontade? Existe, por trás dela, algum<br />
motivo?<br />
KRISH N A M U R TI: Ora, que é “ vontade” ? Por favor, não venhais<br />
com teorias; não citeis o que disse uma certa pessoa. Averigü<strong>em</strong><strong>os</strong> o<br />
que essa palavra significa. “ Ter vontade de fazer uma certa coisa”<br />
significa desejar fazê-la. A vontade, pois, é desejo, não? Muit<strong>os</strong> desej<strong>os</strong>,<br />
muitas ânsias, muit<strong>os</strong> impuls<strong>os</strong>, muitas resistências, muitas exigências,<br />
constituíram esse afiado instrumento, esse extraordinário senso<br />
de volição que é a vontade de fazer uma coisa e levá-la a cabo.<br />
Tod<strong>os</strong> sab<strong>em</strong><strong>os</strong> que por meio da vontade pod<strong>em</strong><strong>os</strong> forçar-n<strong>os</strong> a<br />
fazer certas coisas. Se digo: “ amanhã não me irritarei” , e exerço fort<strong>em</strong>ente<br />
a minha vontade nesse sentido, p<strong>os</strong>so evitar o irritar-me<br />
amanhã. Mas isso não é transformação; como antes assinalei, isso<br />
significa meramente que me estou ajustando a um desejado padrão.<br />
Por certo, nenhuma transformação efetuada por meio da vontade é<br />
transformação; significa, simplesmente, a continuação, numa forma<br />
diferente, daquilo que já existia. Se eu me transformo sob o impulso<br />
de um motivo — pcvque agrada a minha mãe, ou porque a sociedade<br />
exige que eu o faça, ou porque há uma certa vantag<strong>em</strong> <strong>em</strong> fazê-lo,<br />
etc. — essa transformação é um resultado de persuasão, influência,<br />
desejo de recompensa; por conseguinte, não é uma transformação<br />
187