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o-homem-e-os-seus-desejos-em-conflito-j-krishnamurti

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de cert<strong>os</strong> exercíci<strong>os</strong>, ou pelo pensar deliberado, ou pelo recorrer a<br />

qualquer das várias modalidades de fuga à amargura — por nenhuma<br />

dessas maneiras se desperta na mente a extraordinária beleza, a<br />

vitalidade, a intensidade daquela paixão que inclui e transcende o<br />

sofrimento.<br />

Que é sofrimento? A o ouvirdes esta pergunta, como respondeis?<br />

V<strong>os</strong>sa mente trata logo de explicar porque sofr<strong>em</strong><strong>os</strong>, e essa busca<br />

de explicação desperta l<strong>em</strong>branças de passadas aflições. Dessa maneira,<br />

reverteis s<strong>em</strong>pre, verbalmente, ao passado ou saltais para o<br />

futuro, num esforço para explicar a causa do efeito que chamam<strong>os</strong><br />

sofrimento. Julgo, porém, que dev<strong>em</strong><strong>os</strong> ultrapassar tudo isso.<br />

B<strong>em</strong> sab<strong>em</strong><strong>os</strong> o que n<strong>os</strong> faz pensar: pobreza, doença, frustração,<br />

não ser amado, etc. E, quando terminam<strong>os</strong> de explicar as várias<br />

causas do sofrimento, não lhe pus<strong>em</strong><strong>os</strong> fim; não apreend<strong>em</strong><strong>os</strong> realmente<br />

a extraordinária profundeza e significação do sofrimento, e<br />

muito men<strong>os</strong> compreend<strong>em</strong><strong>os</strong> aquele estado que se chama amor. A<br />

meu ver, as duas coisas se relacionam mutuamente — o sofrer e<br />

o amor. E, para compreenderm<strong>os</strong> o que é o amor, precisam<strong>os</strong> sentir<br />

a imensidade do sofrimento.<br />

Os antig<strong>os</strong> falavam a respeito da terminação do sofrimento, tendo<br />

estabelecido um método de viver com que supunham extingui-lo.<br />

Muit<strong>os</strong> têm praticado esse “ método de viver” . Monges do Oriente<br />

e do Ocidente o têm praticado, apenas com o resultado de ter<strong>em</strong><br />

endurecido a si própri<strong>os</strong>; a mente e o coração deles se fecharam.<br />

Viv<strong>em</strong> atrás das paredes de seu próprio pensamento ou atrás de<br />

paredes de tijolo e pedra, mas, realmente, eu não creio que eles<br />

tenham “passado além” , para sentir a imensidade dessa coisa que<br />

se chama sofrimento.<br />

Deixar de sofrer é enfrentar o fato de n<strong>os</strong>sa própria solidão,<br />

de n<strong>os</strong>so apego, de n<strong>os</strong>sas vulgares exigências de fama, n<strong>os</strong>sa ânsia<br />

de serm<strong>os</strong> amad<strong>os</strong>; é estar livre do interesse egocêntrico e da puerilidade<br />

da autocompaixão. E, depois de isso ultrapassarm<strong>os</strong>, e, talvez,<br />

de superarm<strong>os</strong> o sofrimento pessoal, resta ainda o imenso sofrer<br />

coletivo, o sofrer do mundo. Uma pessoa pode pôr fim à própria<br />

amargura, enfrentando <strong>em</strong> si mesma o fato e a causa do sofrimento<br />

— e isso deve ocorrer à mente que deseja ser completamente livre.<br />

Mas, uma vez terminado isso, há ainda o sofrimento oriundo da<br />

ignorância existente no mundo — - ignorância que não é falta de<br />

instrução, de conheciment<strong>os</strong> tirad<strong>os</strong> d<strong>os</strong> livr<strong>os</strong>, porém a ignorância<br />

que o <strong>hom<strong>em</strong></strong> t<strong>em</strong> de si próprio. A falta de autocompreensão é a es-<br />

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