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MEDO, SOFRIMENTO, INOCÊNCIA<br />
(LO NDRES — II)<br />
Pretendo falar nesta tarde a respeito do medo, do sofrimento e<br />
da “inocência” .<br />
Tod<strong>os</strong> nós t<strong>em</strong><strong>os</strong> muitas experiências, e cada experiência deixa<br />
sua marca; cada pensamento, cada influência molda-n<strong>os</strong> de certa maneira<br />
a mente. E é uma coisa essencial morrerm<strong>os</strong> para tudo o que<br />
t<strong>em</strong><strong>os</strong> experimeniado, para que a mente se torne jov<strong>em</strong>, fresca e<br />
“inocente” . Só uma mente “ inocente” , que <strong>em</strong>bora tenha passado<br />
por milhares de experiências está morta para o passado — só ela<br />
pode perceber a verdade e transcender as criações humanas. E o<br />
medo, assim me parece, é uma das forças corruptoras e destrutivas<br />
que tornam imp<strong>os</strong>sível essa “ inocência” .<br />
O medo é t<strong>em</strong>po psicológico. Não há medo, quando não t<strong>em</strong><strong>os</strong><br />
o t<strong>em</strong>po psicológico. Se não há um amanhã, para o qual n<strong>os</strong> estam<strong>os</strong><br />
movendo, e não há l<strong>em</strong>branças do passado, o medo, <strong>em</strong> todas as suas<br />
formas, deixa de existir. Nasce o t<strong>em</strong>or quando o pensamento se projeta<br />
no futuro, ou se compara com o que ele próprio foi antes.<br />
Psicologicamente, o t<strong>em</strong>po é pensamento, tanto consciente como inconsciente;<br />
e é o pensamento que cria o t<strong>em</strong>or.<br />
T<strong>em</strong><strong>os</strong> toda espécie de medo: medo da morte, medo de adoecer,<br />
medo da velhice, medo de perder as satisfações que t<strong>em</strong><strong>os</strong> experimentado,<br />
medo da opinião pública, de não n<strong>os</strong> preencherm<strong>os</strong>, de<br />
não term<strong>os</strong> êxito, de serm<strong>os</strong> ninguém. Como t<strong>em</strong><strong>em</strong><strong>os</strong>, buscam<strong>os</strong><br />
vári<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> de fuga, tanto exterior como interiormente; e, para a<br />
maioria de nós, a religião se tornou um extraordinário meio de fuga<br />
ao medo. Para compreender o medo, t<strong>em</strong><strong>os</strong> de compreender o processo<br />
do pensar, todo o mecanismo do pensamento.<br />
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