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o-homem-e-os-seus-desejos-em-conflito-j-krishnamurti

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atalha perpétua com esse hábito. Um dia o abandono, no dia seguinte<br />

estou de novo escravizado a ele, e fico nesse jogo an<strong>os</strong> e an<strong>os</strong>.<br />

Por conseguinte, devo primeiramente compreender a inutilidade<br />

da resistência ou do esforço para eliminar um hábito. Feito isso, que<br />

acontece? Torno-me consciente do hábito. Se fumo, observo-me quando<br />

o faço. Dou-me conta de que ponho a mão no bolso, retiro o<br />

maço de cigarr<strong>os</strong>, tiro um do maço, bato-o sobre a unha do polegar<br />

ou outra superfície dura, ponho-o na boca, acendo-o, apago o fósforo,<br />

ponho-me a soltar baforadas de fumaça. Estou ciente de cada<br />

movimento, cada gesto, s<strong>em</strong> condenar ou justificar o hábito, s<strong>em</strong><br />

dizer que é certo ou errado, s<strong>em</strong> pensar: “ Que coisa horrível, preciso<br />

ficar livre disso” , etc. Conscientizo-me, s<strong>em</strong> escolha, passo por<br />

passo, quando fumo. Experimentai-o da próxima vez — isto é, se<br />

desejais quebrar o hábito. E, para compreender e quebrar um hábito,<br />

ainda que superficial, podeis considerar no seu todo o imenso probl<strong>em</strong>a<br />

do hábito: hábito de pensamento, hábito de sentimento, hábito<br />

de imitação — e o hábito de ter “fome de ser algo” , pois isso é<br />

também um hábito. Quando combat<strong>em</strong><strong>os</strong> um hábito, dam<strong>os</strong> mais<br />

vida a esse hábito; e, então, o lutar se toma outro hábito, o qual,<br />

por sua vez, n<strong>os</strong> aprisiona novamente. Conhec<strong>em</strong><strong>os</strong> apenas a resistência,<br />

que se tornou hábito. Todo o n<strong>os</strong>so pensar é “ habitual” ; mas<br />

compreender um hábito é abrir a porta da compreensão de todo o<br />

mecanismo do hábito. Descobris quando o hábito é necessário, como<br />

no falar, e quando é visceralmente corruptor.<br />

A maioria de nós funciona numa série de hábit<strong>os</strong>. Na agitação,<br />

na ansiedade, na tr<strong>em</strong>enda agonia de n<strong>os</strong>sa existência, buscam<strong>os</strong> conforto<br />

recorrendo àquilo que chamam<strong>os</strong> Deus, e nesse hábito “ funcionam<strong>os</strong>”<br />

. T<strong>em</strong><strong>os</strong> hábit<strong>os</strong> alimentares, hábit<strong>os</strong> de pensamento, hábit<strong>os</strong><br />

de sentimento, e diz<strong>em</strong><strong>os</strong>: “ Se não ‘funciono’ no hábito, que farei?<br />

Como hei de viver?” — e isso, com efeito, significa medo da incerteza.<br />

Em geral, não sab<strong>em</strong><strong>os</strong> o que é viver num estado de incerteza<br />

s<strong>em</strong> soçobrar. Quando n<strong>os</strong> sentim<strong>os</strong> intensamente incert<strong>os</strong>, tomamon<strong>os</strong><br />

neurótic<strong>os</strong>, sendo isso uma simples reação decorrente do desejo<br />

de estar certo. O pensamento s<strong>em</strong>pre funcionou no hábito, por isso<br />

t<strong>em</strong>e estar incerto, s<strong>em</strong> segurança. Viver na incerteza é um estado<br />

salutar e não um estado neurótico, mas nós não sab<strong>em</strong><strong>os</strong> o que isso<br />

significa.<br />

Assim, para compreenderdes o “ anseio de ser” ou de “ vir a ser” ,<br />

deveis interessar-v<strong>os</strong> no inteiro processo do hábito, e compreendê-lo.<br />

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