o-homem-e-os-seus-desejos-em-conflito-j-krishnamurti
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O necessário é esse extraordinário estado de atenção, no qual<br />
olhais e escutais, s<strong>em</strong> decisão, s<strong>em</strong> motivo, s<strong>em</strong> finalidade — e isso<br />
é, realmente, atenção s<strong>em</strong> escolha. E o conhecer-v<strong>os</strong> não é um processo<br />
de adição. É verdes a vós mesmo como sois: colérico, ciumento,<br />
lúbrico, invej<strong>os</strong>o — é observar simplesmente o fato; e essa observação<br />
s<strong>em</strong> análise revela todo o conteúdo do fato, e não tendes de fazer<br />
nenhum esforço para descobri-lo. No momento <strong>em</strong> que fazeis esforço<br />
para analisar, para compreender, estais desfigurando a realidade; estais<br />
pondo <strong>em</strong> função o v<strong>os</strong>so condicionamento, como analista, como<br />
cristão, como isto ou aquilo.<br />
Como disse, o conhecer a si próprio não é processo de adição<br />
ou acumulação. No momento <strong>em</strong> que acumulais conheciment<strong>os</strong> a<br />
v<strong>os</strong>so respeito, eles dificultam a percepção. Quando v<strong>os</strong> olhais através<br />
de uma cortina de conheciment<strong>os</strong> que acumulastes acerca de vós<br />
mesmo, há desfiguração daquilo que vedes.<br />
Espero esteja claro isso, pois este ponto é muito importante. A<br />
maioria de nós acumula; acumulam<strong>os</strong> virtudes, riquezas, desej<strong>os</strong>,<br />
experiências, idéias, e, com essa carga acumulada, t<strong>em</strong><strong>os</strong> novas experiências.<br />
Desse modo, tudo o que experimentam<strong>os</strong> fica condicionado<br />
pelo conhecimento ou experiência anteriormente adquirida. Toda experiência<br />
já foi provada, conhecida; por conseguinte não há nada<br />
novo.<br />
Outro dia estive falando sobre a morte. Precisais morrer para<br />
todo o conhecimento que tendes acerca de vós, porque o “ eu” jamais<br />
é estático, está s<strong>em</strong>pre variando, não só física, mas também<br />
psicologicamente. Não sois o que ont<strong>em</strong> f<strong>os</strong>tes, <strong>em</strong>bora o desejásseis<br />
ser; operou-se uma mudança, da qual podeis não estar ciente.<br />
Para conhecer-v<strong>os</strong> — e deveis conhecer-v<strong>os</strong> completamente, de<br />
ponta a ponta — o processo de acumular conhecimento sobre vós<br />
mesmo deve terminar; e esse término só pode verificar-se quando<br />
deixardes de julgar, de avaliar, de condenar, de justificar. Isso parece<br />
muito simples, mas para a maioria de nós não é, porque fom<strong>os</strong> exercitad<strong>os</strong><br />
para condenar, julgar, avaliar, comparar, justificar. Tal é<br />
n<strong>os</strong>so condicionamento. E o ver as coisas claramente como são, s<strong>em</strong><br />
a desfiguração causada por n<strong>os</strong>so condicionamento, não é questão<br />
de t<strong>em</strong>po; é uma questão de imediata necessidade. É óbvio que não<br />
podeis ver o que o fato realmente é, se para v<strong>os</strong>so exame trazeis<br />
todas as v<strong>os</strong>sas l<strong>em</strong>branças e opiniões. Se isto está claro, não apenas<br />
verbal ou intelectualmente, porém realmente, poder<strong>em</strong><strong>os</strong> continuar<br />
com uma investigação do inconsciente.<br />
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