o-homem-e-os-seus-desejos-em-conflito-j-krishnamurti
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ou o que por acaso sejam<strong>os</strong>, ou abandonar determinada igreja ou religião.<br />
Mas b<strong>em</strong> mais difícil é ‘descondicionar’ o inconsciente, que<br />
des<strong>em</strong>penha um papel muito mais importante <strong>em</strong> n<strong>os</strong>sa vida do que<br />
a mente consciente. A educação da mente consciente é útil e necessária<br />
para term<strong>os</strong> um meio de ganhar o sustento ou des<strong>em</strong>penharm<strong>os</strong><br />
uma dada função — e é isso o que principalmente interessa a<strong>os</strong><br />
n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> educadores. Som<strong>os</strong> educad<strong>os</strong> para fazer certas coisas, funcionar<br />
mais ou men<strong>os</strong> mecanicamente, de uma certa maneira. Essa a<br />
n<strong>os</strong>sa educação superficial. Porém, interiormente, inconscient<strong>em</strong>ente,<br />
profundamente, som<strong>os</strong> o resultado de milhares de an<strong>os</strong> de esforço<br />
humano; a soma total das lutas, esperanças e desesper<strong>os</strong> do <strong>hom<strong>em</strong></strong>,<br />
de sua eterna busca de algo transcendente, e esse acumular de experiência<br />
pr<strong>os</strong>segue ainda dentro <strong>em</strong> nós mesm<strong>os</strong>. Estar cônscio desse<br />
condicionamento, e dele libertar-se exige grande d<strong>os</strong>e de atenção.<br />
Isso não é questão de análise, porquanto não se pode analisar<br />
o inconsciente. Há especialistas, b<strong>em</strong> sei, que tentam fazê-lo, mas não<br />
o creio p<strong>os</strong>sível. O inconsciente não pode ser examinado pelo consciente.<br />
Já v<strong>os</strong> digo porquê. Através de sonh<strong>os</strong>, sugestões, de símbol<strong>os</strong>,<br />
de mensagens diversas, tenta o inconsciente comunicar-se com a mente<br />
consciente. Essas sugestões e mensagens requer<strong>em</strong> interpretação, e<br />
a mente consciente as interpreta conforme seu próprio condicionamento,<br />
suas idi<strong>os</strong>sincrasias. Nessas condições, não há completo contato<br />
entre as duas, n<strong>em</strong> perfeita compreensão do inconsciente. Ele é<br />
algo que <strong>em</strong> sua inteireza não conhec<strong>em</strong><strong>os</strong> b<strong>em</strong>. Entretanto, se não<br />
compreenderm<strong>os</strong> e n<strong>os</strong> libertarm<strong>os</strong> do inconsciente, com sua carga<br />
“histórica” — a longa história do passado — haverá s<strong>em</strong>pre contradição,<br />
<strong>conflito</strong>, uma furi<strong>os</strong>a batalha interior.<br />
Assim, como disse, a análise não é o meio de compreender o<br />
inconsciente. A análise implica um observador, um analista separado<br />
da coisa analisada. Há uma divisão; e onde há divisão, aí não existe<br />
compreensão.<br />
Ora, esta é uma de n<strong>os</strong>sas dificuldades, talvez a principal dificuldade:<br />
o ficar livre de todo o conteúdo do inconsciente. É p<strong>os</strong>sível<br />
tal coisa? Não sei se já tentastes analisar a vós mesm<strong>os</strong> — analisar<br />
o que pensais, o que sentis, e também <strong>os</strong> motiv<strong>os</strong>, as intenções que<br />
dão orig<strong>em</strong> a v<strong>os</strong>s<strong>os</strong> pensament<strong>os</strong> e sentiment<strong>os</strong>. Se já o fizestes, estou<br />
certo de que descobristes que a análise não pode penetrar b<strong>em</strong> profundamente.<br />
Depois de atingir uma certa profundidade, se detém.<br />
Para se penetrar profundamente, é necessário pôr fim a esse processo<br />
que é “ o analista analisando continuamente” , e, <strong>em</strong> troca, começar<br />
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