o-homem-e-os-seus-desejos-em-conflito-j-krishnamurti
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
consciente? Não apagastes completamente o inconsciente com todo o<br />
seu conteúdo? Há, pois, um percebimento imediato da totalidade da<br />
consciência. Mas não podereis ver a totalidade da consciência enquanto<br />
estiverdes observando através de v<strong>os</strong>so condicionamento, através<br />
da experiência acumulada no passado.<br />
A o chegardes a esse ponto — e deveis chegar — tereis lançado<br />
as bases da meditação; porque tereis então eliminado completamente<br />
o sofrimento. Isso não significa que não haverá mais compaixão.<br />
Mas tereis eliminado o sofrimento, que <strong>em</strong>bota e insensibiliza a mente<br />
— sofrimento que significa autopiedade, “preocupação consigo<br />
mesmo” , que nenhuma relação t<strong>em</strong> com a verdadeira compaixão.<br />
Agora, que é meditação? Há qu<strong>em</strong> diga que na meditação é<br />
preciso controlar o pensamento. Que implica esse controle? Implica<br />
contradição, que é uma forma de <strong>conflito</strong>. A pessoa procura concentrar-se<br />
numa coisa e outr<strong>os</strong> pensament<strong>os</strong> se insinuam, <strong>os</strong> quais ela<br />
t<strong>em</strong> de repelir continuamente; torna-se, assim, a concentração, gradualmente,<br />
um processo de exclusão. É coisa s<strong>em</strong>elhante ao caso do<br />
aluno que deseja olhar pela janela, mas o professor lhe manda olhar<br />
para o livro; o esforço de “olhar para o livro” chama-se concentração.<br />
Mas tal concentração é exclusão.<br />
Penso haver um estado de atenção <strong>em</strong> que a concentração não<br />
é exclusão. Quando a mente se concentra por meio de disciplina,<br />
de controle, de repressão, de várias formas de punição e recompensa,<br />
essa concentração divide a mente contra si própria, e produz<br />
<strong>conflito</strong>. Na atenção não há <strong>conflito</strong>. Só se pode compreender a<br />
atenção quando se percebe a significação do tentar concentrar-se por<br />
meio de controle; e isso significa que cessa o esforço para se concentrar.<br />
Enquanto fizerdes esforço para v<strong>os</strong> concentrardes, haverá<br />
contradição, <strong>conflito</strong> e, por conseguinte, não haverá atenção; e vós<br />
precisais da atenção.<br />
A meditação não é prece; a prece implica súplica, rogo, e isso<br />
é extr<strong>em</strong>amente infantil. Vós só rezais quando v<strong>os</strong> vedes <strong>em</strong> dificuldades.<br />
Um <strong>hom<strong>em</strong></strong> feliz não reza. Só reza o <strong>hom<strong>em</strong></strong> que sofre, o<br />
<strong>hom<strong>em</strong></strong> que deseja algo ou t<strong>em</strong> medo de perder algo. E a cont<strong>em</strong>plação,<br />
conforme o fatiçada pel<strong>os</strong> ocidentais, essa também não é<br />
meditação.<br />
Notai, por favor, que <strong>em</strong>preguei a palavra “ ocidentais” apenas<br />
como meio de comunicação. Para mim não há divisão entre Oriente<br />
e Ocidente. Tal divisão é absurdamente nacionalista, pernici<strong>os</strong>a.<br />
54