o-homem-e-os-seus-desejos-em-conflito-j-krishnamurti
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Já examinam<strong>os</strong> o que significa “mente descondicionada” e, portanto,<br />
não tratarei disso agora. A mente livre não t<strong>em</strong> visões. Deus<br />
não é uma visão.<br />
OUVIN TE: Não percebo a relação existente entre a morte, o<br />
sofrimento e o estado de meditação.<br />
K RISH N A M U RTI: Para perceber o inteiro significado do sofrimento<br />
— não apenas verbal ou intelectualmente, mas, sim, penetrando-o a<br />
fundo e libertando-n<strong>os</strong> de sua ação corr<strong>os</strong>iva e interior — a mente<br />
precisa achar-se num estado de meditação. Toda verdadeira investigação<br />
é um estado de meditação. Para compreender o significado da<br />
morte — compreensão que significa morrerm<strong>os</strong> tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> dias para<br />
n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> talent<strong>os</strong>, n<strong>os</strong>sas qualidades, n<strong>os</strong>so trabalho, n<strong>os</strong>sas l<strong>em</strong>branças<br />
— ■precisam<strong>os</strong> estar imparcialmente atent<strong>os</strong>, plenamente vigilantes; e<br />
esse estado de atenção pura é meditação. Não há diferença entre meditação<br />
e compreensão do sofrimento, porque a compreensão do sofrimento<br />
é o começo da meditação. Para poder ir muito longe na<br />
meditação, a mente deve estar livre de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> liames psicológic<strong>os</strong>.<br />
Nesse estado de liberdade há um movimento que não envolve distância<br />
n<strong>em</strong> t<strong>em</strong>po, e esse movimento é criação. Tudo isso faz parte<br />
da meditação.<br />
PERGUNTA: A atividade criadora d<strong>os</strong> grandes artistas difere do<br />
movimento criador de que falais?<br />
KRISH NAM URTI: Devo dizer que sim; mas esta é uma questão de<br />
que não desejo tratar nesta manhã. O movimento criador não exige<br />
expressão; de nenhuma técnica depende, de nenhum dom ou talento.<br />
Pelo contrário, qualquer dom, todo talento deve desaparecer, para<br />
que a mente se encontre com essa imensa criação. Podereis perguntar:<br />
“ Mas se o movimento criador de que falais não pode ser p<strong>os</strong>to numa<br />
tela, não pode expressar-se num po<strong>em</strong>a, <strong>em</strong> arquitetura, <strong>em</strong> música,<br />
que valor t<strong>em</strong> então?” — Nenhum, absolutamente. Ele não é coisa<br />
mercadejável. Dele nenhum benefício podeis auferir. É algo absoluto.<br />
Pod<strong>em</strong><strong>os</strong> sonhar com traduzir <strong>em</strong> ação o movimento criador, expressá-lo<br />
<strong>em</strong> palavras, pô-lo numa moldura, mas nunca poder<strong>em</strong><strong>os</strong> fazê-lo.<br />
O artista poderá, <strong>em</strong> rar<strong>os</strong> moment<strong>os</strong>, ter um sentimento de algo transcendente<br />
a seu pequenino “ ego” , mas isso não é movimento criador.<br />
Só pode vir à existência aquela imensidade quando o “ eu” está de<br />
todo ausente e a mente, por conseguinte, é deveras religi<strong>os</strong>a.<br />
9 de ag<strong>os</strong>to de 1962.<br />
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