10.04.2017 Views

o-homem-e-os-seus-desejos-em-conflito-j-krishnamurti

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Como já salientei, releva escutar o que se diz, s<strong>em</strong> concordar<br />

n<strong>em</strong> discordar; porque nós estam<strong>os</strong> considerando fat<strong>os</strong> e não idéias.<br />

Estam<strong>os</strong> considerando fat<strong>os</strong>, independent<strong>em</strong>ente de que sejam agradáveis<br />

ou desagradáveis. E se som<strong>os</strong> capazes de considerar o fato<br />

que é o medo, escutar-lhe todo o conteúdo, ver sua estrutura, estou<br />

b<strong>em</strong> certo de que então a mente ficará num instante livre do medo.<br />

Mas nós não sab<strong>em</strong><strong>os</strong> escutar, porque estam<strong>os</strong> s<strong>em</strong>pre procurando<br />

fugir ao medo; quer<strong>em</strong><strong>os</strong> dissolvê-lo, descobrir uma maneira<br />

de n<strong>os</strong> livrarm<strong>os</strong> dele, descobrir sua causa. Chamam<strong>os</strong> ao fato “ medo” ,<br />

e a palavra se torna então da máxima importância; por essa razão,<br />

nunca escutam<strong>os</strong> o fato.<br />

O descobrimento da causa do medo não é libertação do medo.<br />

Com muita análise, investigação, é p<strong>os</strong>sível conhecerm<strong>os</strong> a causa do<br />

medo; mas, no final de tudo, continuam<strong>os</strong> a t<strong>em</strong>er. E, se não estiverm<strong>os</strong><br />

realmente livres do t<strong>em</strong>or, qualquer espécie de busca, qualquer<br />

espécie de investigação só produzirá mais ilusão ou desfiguração.<br />

O <strong>hom<strong>em</strong></strong> verdadeiramente religi<strong>os</strong>o, se p<strong>os</strong>so <strong>em</strong>pregar esta<br />

palavra, não t<strong>em</strong> medo, psicologicamente, interiormente. Por “ <strong>hom<strong>em</strong></strong><br />

religi<strong>os</strong>o” entendo um “<strong>hom<strong>em</strong></strong> total” , e não aquele que é meramente<br />

sentimental ou que foge ao mundo, narcotizando-se com idéias, ilusões,<br />

visões. A mente de um <strong>hom<strong>em</strong></strong> religi<strong>os</strong>o é muito tranqüila, sã,<br />

racional, lógica; e dessa mente é que necessitam<strong>os</strong>, e não de uma<br />

mente sentimental, <strong>em</strong>otiva, medr<strong>os</strong>a, enredada <strong>em</strong> seu especial condicionamento.<br />

Ora, desejo, se p<strong>os</strong>sível, examinar esta questão do medo de<br />

maneira tal, que, no próprio ato de escutar, o ouvinte deixe de t<strong>em</strong>er.<br />

Como sabeis, desejam<strong>os</strong> ficar livres do medo para todo o s<strong>em</strong>pre.<br />

Não existe tal coisa: “ ficar livre para todo o s<strong>em</strong>pre” . Para se<br />

compreender isso, é preciso compreender a continuidade. O que dá<br />

continuidade a uma coisa, agradável ou desagradável, é o pensar<br />

nela. A o pensarm<strong>os</strong> a respeito de uma coisa, dam<strong>os</strong>-lhe continuidade.<br />

Dam<strong>os</strong> continuidade ao medo com o pensar sobre ele — mas<br />

isso não significa que não devam<strong>os</strong> investigar o processo total do<br />

t<strong>em</strong>or.<br />

Como disse, o medo é o t<strong>em</strong>po, no sentido psicológico, e o<br />

t<strong>em</strong>po é pensamento. T<strong>em</strong>po é o processo de “ vir a ser” , evitar,<br />

preencher-se. Sou isto e quero ser aquilo. O t<strong>em</strong>po, por conseguinte,<br />

é o fator do medo. Quando v<strong>os</strong> vedes diretamente <strong>em</strong> presença de<br />

uma coisa, qualquer que ela seja, nesse momento não há medo. Mas<br />

o pensar a seu respeito at<strong>em</strong>oriza.<br />

12

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!