o-homem-e-os-seus-desejos-em-conflito-j-krishnamurti
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Como já salientei, releva escutar o que se diz, s<strong>em</strong> concordar<br />
n<strong>em</strong> discordar; porque nós estam<strong>os</strong> considerando fat<strong>os</strong> e não idéias.<br />
Estam<strong>os</strong> considerando fat<strong>os</strong>, independent<strong>em</strong>ente de que sejam agradáveis<br />
ou desagradáveis. E se som<strong>os</strong> capazes de considerar o fato<br />
que é o medo, escutar-lhe todo o conteúdo, ver sua estrutura, estou<br />
b<strong>em</strong> certo de que então a mente ficará num instante livre do medo.<br />
Mas nós não sab<strong>em</strong><strong>os</strong> escutar, porque estam<strong>os</strong> s<strong>em</strong>pre procurando<br />
fugir ao medo; quer<strong>em</strong><strong>os</strong> dissolvê-lo, descobrir uma maneira<br />
de n<strong>os</strong> livrarm<strong>os</strong> dele, descobrir sua causa. Chamam<strong>os</strong> ao fato “ medo” ,<br />
e a palavra se torna então da máxima importância; por essa razão,<br />
nunca escutam<strong>os</strong> o fato.<br />
O descobrimento da causa do medo não é libertação do medo.<br />
Com muita análise, investigação, é p<strong>os</strong>sível conhecerm<strong>os</strong> a causa do<br />
medo; mas, no final de tudo, continuam<strong>os</strong> a t<strong>em</strong>er. E, se não estiverm<strong>os</strong><br />
realmente livres do t<strong>em</strong>or, qualquer espécie de busca, qualquer<br />
espécie de investigação só produzirá mais ilusão ou desfiguração.<br />
O <strong>hom<strong>em</strong></strong> verdadeiramente religi<strong>os</strong>o, se p<strong>os</strong>so <strong>em</strong>pregar esta<br />
palavra, não t<strong>em</strong> medo, psicologicamente, interiormente. Por “ <strong>hom<strong>em</strong></strong><br />
religi<strong>os</strong>o” entendo um “<strong>hom<strong>em</strong></strong> total” , e não aquele que é meramente<br />
sentimental ou que foge ao mundo, narcotizando-se com idéias, ilusões,<br />
visões. A mente de um <strong>hom<strong>em</strong></strong> religi<strong>os</strong>o é muito tranqüila, sã,<br />
racional, lógica; e dessa mente é que necessitam<strong>os</strong>, e não de uma<br />
mente sentimental, <strong>em</strong>otiva, medr<strong>os</strong>a, enredada <strong>em</strong> seu especial condicionamento.<br />
Ora, desejo, se p<strong>os</strong>sível, examinar esta questão do medo de<br />
maneira tal, que, no próprio ato de escutar, o ouvinte deixe de t<strong>em</strong>er.<br />
Como sabeis, desejam<strong>os</strong> ficar livres do medo para todo o s<strong>em</strong>pre.<br />
Não existe tal coisa: “ ficar livre para todo o s<strong>em</strong>pre” . Para se<br />
compreender isso, é preciso compreender a continuidade. O que dá<br />
continuidade a uma coisa, agradável ou desagradável, é o pensar<br />
nela. A o pensarm<strong>os</strong> a respeito de uma coisa, dam<strong>os</strong>-lhe continuidade.<br />
Dam<strong>os</strong> continuidade ao medo com o pensar sobre ele — mas<br />
isso não significa que não devam<strong>os</strong> investigar o processo total do<br />
t<strong>em</strong>or.<br />
Como disse, o medo é o t<strong>em</strong>po, no sentido psicológico, e o<br />
t<strong>em</strong>po é pensamento. T<strong>em</strong>po é o processo de “ vir a ser” , evitar,<br />
preencher-se. Sou isto e quero ser aquilo. O t<strong>em</strong>po, por conseguinte,<br />
é o fator do medo. Quando v<strong>os</strong> vedes diretamente <strong>em</strong> presença de<br />
uma coisa, qualquer que ela seja, nesse momento não há medo. Mas<br />
o pensar a seu respeito at<strong>em</strong>oriza.<br />
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