o-homem-e-os-seus-desejos-em-conflito-j-krishnamurti
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A humildade, pois, não é uma coisa que se deve alcançar com<br />
esforço. Alcançá-la-eis naturalmente, facilmente, “ graci<strong>os</strong>amente” , uma<br />
vez percebido como um processo total esse movimento do exterior<br />
e do interior. Então, começareis a aprender. Aprender é o estado da<br />
mente que jamais acumula experiência como m<strong>em</strong>ória, por mais agradável<br />
que seja a experiência; é o estado da mente que nunca evita um<br />
pesar, uma frustração. Ela se acha s<strong>em</strong>pre num “ estado de aprender” ,<br />
de humildade. E vereis que da humildade provém a disciplina. Em<br />
maioria, não som<strong>os</strong> disciplinad<strong>os</strong>. Submet<strong>em</strong>o-n<strong>os</strong>, ajustamo-n<strong>os</strong>, imitam<strong>os</strong>,<br />
reprimim<strong>os</strong>, sublimam<strong>os</strong>, mas nada disso é disciplina. Submissão<br />
não é disciplina e, sim, meramente, um produto do medo; por<br />
conseguinte, toma a mente estreita, estulta, <strong>em</strong>botada. Refiro-me a<br />
uma disciplina que existe espontaneamente quando há esse extraordinário<br />
senso de humildade e, por conseguinte, n<strong>os</strong> acham<strong>os</strong> num “ estado<br />
de aprender” . Não é então necessário impor à mente nenhuma<br />
disciplina, porquanto o “ estado de aprender” é, <strong>em</strong> si mesmo, uma<br />
disciplina.<br />
Espero estar explicando isso b<strong>em</strong> claramente. Não falo da disciplina<br />
mecânica do soldado, que é exercitado para matar ou ser<br />
morto, n<strong>em</strong> da disciplina da técnica. Os escritóri<strong>os</strong>, oficinas, fábricas,<br />
laboratóri<strong>os</strong> e as diversas profissões técnicas requer<strong>em</strong> eficiência e, a<br />
fim de funcionar eficient<strong>em</strong>ente num dado trabalho, a pessoa se disciplina,<br />
para corresponder ao padrão estabelecido. Não me refiro a<br />
nada disso. Refiro-me a uma disciplina completamente diferente, uma<br />
disciplina que nasce espontaneamente quando se compreende esse extraordinário<br />
processo da vida, não <strong>em</strong> fragment<strong>os</strong>, mas como um<br />
todo indiviso. Quando v<strong>os</strong> compreendeis, não “ especializado” como<br />
músico, artista, orador, iogue, etc., mas como ser humano total, então,<br />
como resultado dessa autocompreensão, há um “ estado de aprender” ,<br />
e ele constitui uma disciplina isenta de ajustamento, imitação. A mente<br />
não está sendo moldada de acordo com nenhum padrão e, portanto,<br />
é livre, e nessa liberdade há um espontâneo senso de disciplina. Acho<br />
importante compreender isso, porquanto, para a maioria de nós, liberdade<br />
significa fazer tudo o que desejam<strong>os</strong>, ou obedecer a<strong>os</strong> n<strong>os</strong>s<strong>os</strong><br />
instint<strong>os</strong>, ou seguir o que, infelizmente, chamam<strong>os</strong> “n<strong>os</strong>sa intuição” .<br />
Mas nada disso é liberdade.<br />
Liberdade significa esvaziar a mente do conhecido. Não sei se<br />
já alguma vez o tentastes, vós mesmo. O relevante é libertarm<strong>os</strong> a<br />
mente do conhecido, ou, melhor, que a mente se liberte do conhecido.<br />
Isso não significa que a mente deva libertar-se do conhecimento “ fatual”<br />
, pois <strong>em</strong> certo grau necessitam<strong>os</strong> desse conhecimento. É claro<br />
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