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INTRODUÇÃO
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Portanto, para começarmos a partir daqui, é coisa assente que Cristo Óptimo
Máximo, “virtude e sabedoria de Deus”, [1 Cor 1. 24] foi o autor e progenitor da
comunidade cristã. E que ele (deixando em silêncio a sua divindade e eterna
majestade) levou neste mundo uma vida pobre, humilde, baixa, desprezada e
cheia de todos os incómodos e trabalhos. Associou a si um povo e estabeleceu
uma comunidade de tal natureza que seguissem as suas pisadas, imitassem os seus
costumes e conservassem as suas leis e regras de vida. A esta, como a esposa muito
amada, que a tal ponto amara que por ela derramou o sangue e padeceu as piores
torturas e uma morte mofina, para através dela a libertar do senhorio das trevas e da
tirania de Satã: a esta, pois, não a enriqueceu com tesouros e glória, mas ataviou-a,
dotou-a e cumulou-a, com as maiores, as melhores e as mais divinas dádivas, com
a pobreza, o desprezo, as privações e os agravos, coisas estas que sem dúvida
conduzem e levam ao seu Reino. Por outro lado, àqueles [Aiii*] que pusera à sua
testa para que a governassem, refiro-me aos apóstolos, escolheu-os de nascimento
humilde, pobres e pescadores de profissão, desprovidos de arrebiques e vãs filosofias,
mas inspirados pelo Espírito de Deus e eminentes pelas suas celestiais virtudes.
E ela, assim despojada de todas as ajudas do mundo, e rica em Céu, bom Deus,
quanto cresceu? Quanto floresceu? Quanto resplandeceu? Quanto aumentou as suas
fronteiras? Finalmente, quanta admiração causou, não apenas a todos os homens
rústicos, mas igualmente a sábios, filósofos, reis e príncipes? Quão fervorosa era a
religiosidade daquela época? Que piedade, caridade, “alegria, paz no Espírito Santo”?
[Rm 14. 17] Que concórdia e unanimidade de todos em Deus? Que magníficos templos
e grande número de conventos, de que os derruídos e prostrados cadáveres provam
até hoje o fervor e devoção não comuns? Depois, como era grande nos pastores o
zelo, morrendo todos os dias pelas suas ovelhas? [1 Cor 15. 31] Nos mestres, que
sabedoria para refutar as heresias e “dar razão da esperança que havia neles”? [1 Ped
3. 15] Nos monges, que devoção, modéstia, disciplina, morigeração e incessante
elevação do espírito para o Céu? Nas donzelas, que pureza, honestidade e pudico
recato? [Aiii* vº] Nos casais, que amor recíproco? E no povo, que integridade,
singeleza e obediência às autoridades? Por derradeiro, que zeloso acatamento e
diligente cumprimento das leis divinas e humanas? Quase não restava lugar para a
soberba, para a indolência, para a frouxidão ou para as demais graves faltas.
Mas, ao invés, depois que o direito recuou diante dos pecados e a cizânia começou
a sufocar o trigo, acabado aquele período de tirocínio da Igreja, que não pôde então
ver-se de triste, de mofino, de funesto e de calamitoso? Tudo foi derrubado, extinto,
subvertido e derribado e esteve a pontos de desaparecer. A piedade esfriou com
a impiedade, a religiosidade com a superstição, a paz com a guerra, a obediência
com a rebelião, a verdade com a mentira, o pudor com a insolência, a temperança
com a glutonaria, a sobriedade com a intemperança, o comedimento com o fausto,
a devoção com a frouxidão, a moderação com o luxo, a esmola com a avareza,
a prudência com o desatino, a sensatez com a precipitação, a humildade com a
soberba e a insolência, a fé com a infidelidade, a esperança com a vã confiança,