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5- orações da sapiência

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INTRODUÇÃO

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Portanto, para começarmos a partir daqui, é coisa assente que Cristo Óptimo

Máximo, “virtude e sabedoria de Deus”, [1 Cor 1. 24] foi o autor e progenitor da

comunidade cristã. E que ele (deixando em silêncio a sua divindade e eterna

majestade) levou neste mundo uma vida pobre, humilde, baixa, desprezada e

cheia de todos os incómodos e trabalhos. Associou a si um povo e estabeleceu

uma comunidade de tal natureza que seguissem as suas pisadas, imitassem os seus

costumes e conservassem as suas leis e regras de vida. A esta, como a esposa muito

amada, que a tal ponto amara que por ela derramou o sangue e padeceu as piores

torturas e uma morte mofina, para através dela a libertar do senhorio das trevas e da

tirania de Satã: a esta, pois, não a enriqueceu com tesouros e glória, mas ataviou-a,

dotou-a e cumulou-a, com as maiores, as melhores e as mais divinas dádivas, com

a pobreza, o desprezo, as privações e os agravos, coisas estas que sem dúvida

conduzem e levam ao seu Reino. Por outro lado, àqueles [Aiii*] que pusera à sua

testa para que a governassem, refiro-me aos apóstolos, escolheu-os de nascimento

humilde, pobres e pescadores de profissão, desprovidos de arrebiques e vãs filosofias,

mas inspirados pelo Espírito de Deus e eminentes pelas suas celestiais virtudes.

E ela, assim despojada de todas as ajudas do mundo, e rica em Céu, bom Deus,

quanto cresceu? Quanto floresceu? Quanto resplandeceu? Quanto aumentou as suas

fronteiras? Finalmente, quanta admiração causou, não apenas a todos os homens

rústicos, mas igualmente a sábios, filósofos, reis e príncipes? Quão fervorosa era a

religiosidade daquela época? Que piedade, caridade, “alegria, paz no Espírito Santo”?

[Rm 14. 17] Que concórdia e unanimidade de todos em Deus? Que magníficos templos

e grande número de conventos, de que os derruídos e prostrados cadáveres provam

até hoje o fervor e devoção não comuns? Depois, como era grande nos pastores o

zelo, morrendo todos os dias pelas suas ovelhas? [1 Cor 15. 31] Nos mestres, que

sabedoria para refutar as heresias e “dar razão da esperança que havia neles”? [1 Ped

3. 15] Nos monges, que devoção, modéstia, disciplina, morigeração e incessante

elevação do espírito para o Céu? Nas donzelas, que pureza, honestidade e pudico

recato? [Aiii* vº] Nos casais, que amor recíproco? E no povo, que integridade,

singeleza e obediência às autoridades? Por derradeiro, que zeloso acatamento e

diligente cumprimento das leis divinas e humanas? Quase não restava lugar para a

soberba, para a indolência, para a frouxidão ou para as demais graves faltas.

Mas, ao invés, depois que o direito recuou diante dos pecados e a cizânia começou

a sufocar o trigo, acabado aquele período de tirocínio da Igreja, que não pôde então

ver-se de triste, de mofino, de funesto e de calamitoso? Tudo foi derrubado, extinto,

subvertido e derribado e esteve a pontos de desaparecer. A piedade esfriou com

a impiedade, a religiosidade com a superstição, a paz com a guerra, a obediência

com a rebelião, a verdade com a mentira, o pudor com a insolência, a temperança

com a glutonaria, a sobriedade com a intemperança, o comedimento com o fausto,

a devoção com a frouxidão, a moderação com o luxo, a esmola com a avareza,

a prudência com o desatino, a sensatez com a precipitação, a humildade com a

soberba e a insolência, a fé com a infidelidade, a esperança com a vã confiança,

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