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5- orações da sapiência

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INTRODUÇÃO

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Nesta situação, santíssimos Padres, considero quo o mais doloroso e mais

deplorável é [Bi*] o facto de que, à semelhança de enfermos, que nem consentem

médico nem toleram remédios, ou como aqueles que, colocados no fundo do mar,

não sentem o peso imenso das águas, nós, que todos os dias, como pelo melhor

e mais extremoso dos pais, somos golpeados pelo açoite de Deus, esmagados

pelas mais violentas calamidades, estamos tão longe de querermos arrepender-nos

que (algo que é o cúmulo da cegueira), no meio de um tão grande naufrágio e

graves perigos, vivemos tão negligentemente como se nos encontrássemos na mais

completa paz e parecesse que nada tínhamos omitido do que tange ao bem viver,

marchando (prouvera a Deus!) empós dos pendões da virtude. Por tal forma que,

tendo permanecido obstinados como um segundo faraó diante dos golpes [Êx 7.

13] e surdos como as serpentes diante das reprimendas, [Sl 58. 5] com razão se nos

podem aplicar as conhecidas palavras de Jeremias: “Em vão castiguei os vossos

filhos, eles não receberam a correcção.” [Jr 2. 30]

É este o nosso estado, é esta a situação da nossa cristandade, excelentíssimos

Padres, este o presente naufrágio em que corremos perigo.

Ora, acresce que ao perscrutar eu a causa de tão grandes males, nenhuma

outra me ocorre senão o facto de que sucumbimos àqueles três dardos de Satanás

com que antigamente este abominável atacou a nossa cabeça, digo, Cristo Óptimo

[Bi* vº] Máximo, que jejuava no deserto e, para pô-lo à prova, conforme hoje a Igreja

recorda, o tentou com a gula, a ambição e a avareza. São estas as três pragas que

saíam da boca dos três terríveis cavalos, tal como se encontra no Apocalipse, as quais

mataram a terça parte dos homens: fogo, fumo e enxofre. [Ap 9. 17-18] Ora, estas

três pestes que causam a destruição e perdição de todo o mundo são, consoante

o testemunho de S. João, “a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos

e a soberba da vida.” [1 Jo 2. 16] É que, logo que estas começam a introduzir-se e

insinuar-se no espírito dos homens, imediatamente a virtude enfraquece, emurchece,

emudece, desvanece-se e é postergada.

Com efeito, começando pelo defeito da gula: que males não produziu no

mundo? Ela acabou completamente com a sobriedade (para não repetir tão amiúde

a infeliz queda dos primeiros pais). [Gn 3] Baniu a abstinência. Não apenas quebrou

os sagrados jejuns, mas desterrou-os. Finalmente, suprimiu a disciplina do corpo,

mediante a qual a caridade se mantém protegida e fortificada como por fortíssimas

muralhas. Abriu o caminho à intemperança, ao luxo, à bebedice, à sensualidade e à

impudência. Os nossos antepassados, varões santíssimos, como pura e sabiamente

tinham consciência destas coisas, a tal ponto veneraram a disciplina do corpo que

uniram-na sempre com a piedade. [Bii] Não como hoje muitos “inimigos da cruz

de Cristo, cujo deus é o ventre, que gostam só do que é terreno”, [Fl 3. 18-19] (para

não me referir aos restantes amantes dos deleites) que vemos que abandonam a fé,

a Igreja e Deus exclusivamente por amor da liberdade de alimentos.

Depois, já o apetite da vã glória e a ambição de honrarias deram de si os cortejos,

o fausto, o aparato e mil outras aberrações e monstruosidades. É que, conforme

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