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5- orações da sapiência

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ORAÇÃO DE TODAS AS CIÊNCIAS E SABERES

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orador, mediante a abundância de palavras, antes de mais inculca confiança naquela

pessoa a quem dirige o discurso, 41 ao passo que o dialéctico limita-se ao conteúdo,

que encerra em poucas palavras graças a certo método de síntese. 42 Finalmente,

embora outros tenham chamado a esta a arte da adulação, 43 Platão todavia designou‐a

por uma espécie de habilidade que causa prazer aos que escutam. 44

A simetria da eloquência no discurso é atribuída a Górgias, a Aristóteles o vigor,

a Teofrasto o encanto, a Platão a abundância, a Demóstenes a ousadia, a Péricles

a autoridade e a Cícero tudo isto de sobejo, além da veemência, da facúndia, da

gravidade e de uma inexcedível autoridade, unidas a um excelente e agradável

comedimento do semblante, do porte, da voz e dos movimentos. [28] Sendo certo que

estes atributos sempre se requerem num discurso perfeito e bem acabado, porventura

não considerais que a eloquência é tão difícil de conseguir-se como excelente a

honra de possui-la? E assim ela é de grande eficácia para combater as injustiças,

para tranquilizar os espíritos e até para seduzi-los e afastá-los de onde quiserdes, e

para incitar a vontade dos homens nas situações difíceis. 45 Para não me referir ao

mais, ela de tal modo é considerada necessária ao Estado que, assim como nela se

encerra quer a respeitabilidade do juiz, quer a autoridade das magistraturas, quer a

moderação da cidade e o incitamento às virtudes, da mesma maneira nada parece ser

mais generoso, mais agradável, mais fecundo, mais proveitoso para o género humano,

mais apartado da selvajaria e mais próprio da condição humana do que um discurso

elegante, formoso, harmonioso e acepilhado. Finalmente, com ela, assim como os

homens superam os brutos graças à razão, assim uns homens se avantajam a outros,

por forma a vencer-se mediante a eloquência o que não consegue lograr-se pela força

e pelas armas. Mas para que não pareça que por amor da Eloquência digo mais do

que aquilo que pede o nosso discurso, passemos a expor por último a Gramática.

Esta, da mesma maneira que o dialéctico atende à verdade e o retórico ao ornato,

assim o gramático ao que convém no discurso. Por forma a que neste não haja

nada de desagradável, nada de obscuro e nada de bárbaro capaz [29] de ofender

os nossos ouvidos, mas que com a elegância das palavras e a propriedade das

expressões o discurso de tal sorte se abrilhante que afague os mesmos ouvidos e

lhes cause sobeja deleitação. E a arte gramatical não se restringiu apenas a isto,

mas ensinou as Musas Carmentas 46 a, mediante uma certa agradável diversidade de

ritmos, comporem diversos cantares. E incitou os antigos escritores a, através de

registos quase imorredoiros, tornarem como que presentes as nobres façanhas dos

nossos antepassados.

Por outro lado, Sócrates definiu-a como uma espécie de alicerces e protecção

das outras artes, afirmando que se estes não forem bem assentados, não haverá

nenhuma outra ciência que possa duradoira e perfeitamente subsistir. 47 A ela, os

antigos tinham-na em tão alta estima que Platão chama a Theuth, célebre descobridor

desta arte (conquanto se atribuam a Cadmo as primeiras letras, ainda que com mais

verdade a Moisés ou a Adão), pai de todas as ciências. 48 Motivo pelo qual se acha

em certa maneira com direito a reivindicar todos os louvores e consideração.

Gramática

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