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INTRODUÇÃO
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fazer os Confessores (aliás, pequeno livro de facto intitulado Tratado de avisos de
confessores, e no qual, segundo confissão própria, a sua intervenção é mais de
adaptador do que de autor), impressas em 1560, e a notável Oratio de Calamitatibus
Ecclesiae, pronunciada em Trento, em Fevereiro de 1562, e editada neste mesmo
ano em Bréscia, às quais nos referiremos à frente com um pouco mais de vagar.
Respiguemos da Biblioteca Lusitana o que interessa ao nosso intento, que é duplo:
primeiro, provar que o leigo Jerónimo de Brito corresponde ao religioso dominicano
que usou dos nomes frei Henrique de S. Jerónimo e D. frei Henrique de Távora;
depois, traçar-lhe um breve bosquejo biográfico. Vejamos pois:
«D. FREI HENRIQUE DE TÁVORA. Nasceu na nobre vila de Santarém sendo filho
terceiro de Fernão Cardoso, muito estimado na corte del-rei D. João o III pelos
seus sentenciosos apotegmas, e D. Filipa de Brito. [...] Por insinuação do cardeal
D. Henrique, de quem fora moço de câmara, recebeu o ilustre hábito da Ordem
dos Pregadores em [...] Benfica [...] a cujo acto assistiu aquele príncipe, mudando
em seu obséquio o nome de Jerónimo, que tinha no século, em o de Henrique.
Passado o ano do noviciado, professou solenemente a 14 de Agosto de 1557 nas
mãos do insigne varão frei Bartolomeu dos Mártires, prior de Benfica, [...] que, sendo
constrangido a aceitar a Mitra Primacial de Braga, o elegeu por seu doméstico. [...]
querendo que o acompanhasse ao Concílio Tridentino. [...] Neste venerável congresso
conciliou frei Henrique geral aclamação [...] pregando a 1ª Dominga da Quaresma,
que caiu a 15 de Fevereiro de 1562, na presença daquela autorizada assembleia.
[...] Restituído ao Reino, foi eleito prior do convento de Évora [...] sendo nomeado
por el-rei D. Sebastião bispo de [...] Cochim, em cuja dignidade o confirmou S. Pio
V a 13 de Janeiro de 1567, donde foi promovido para arcebispo de Goa, primaz
do Oriente, por bula de Gregório XIII, a 20 de Janeiro de 1578. [...] visitou tão
vasta diocese [...] até chegar à cidade de Chaul [...] e, como a achasse infeccionada
de enormes vícios, se armou com as obras e palavras a reduzi-la ao caminho da
penitência. Porém como desta redução se ofendesse um dos seus moradores, para
se vingar do zeloso prelado lhe deu ocultamente veneno, que o privou da vida a
17 de Maio de 1581. Jaz sepultado no cruzeiro do convento de S. Domingos.»
Barbosa Machado cita depois, consoante a praxe, a bibliografia onde colheu estas
informações, concedendo, como seria de esperar, a primazia ao cronista da Ordem
Dominicana frei Luís de Sousa, fonte que se reveste para nós do crédito acrescido de
ser também escalabitano e quase contemporâneo da personagem de que tratamos.
Ora, o capítulo 12, do livro 2º da 2ª parte da História de S. Domingos é todo ele
consagrado aos “Padres frei Jerónimo e frei Fernando de Távora, irmãos, e tirados
ambos da Ordem para bispos”. Cederemos agora a palavra (de muito bom grado
e para refrigério do leitor) ao mavioso estilista, dele transcrevendo as informações
que corroboram ou acrescentam algo àquilo que Barbosa Machado nos dissera:
«Seguem dous irmãos, filhos da vila de Santarém por sangue e nascimento, e
deste convento [=Benfica] por criação e profissão, e ambos bispos por merecimentos
pessoais de virtudes e letras. Seu pai foi Fernão Cardoso, tão conhecido e estimado