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ORAÇÃO DE TODAS AS CIÊNCIAS E SABERES
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também dispersá-las, e para os demais expedientes da guerra de que os exércitos
costumam usar quer nos assédios, quer em marcha. É que, quem se atreveria a
acreditar que os exércitos romanos por tal forma foram desbaratados pelo ilustríssimo
varão e fortíssimo general Aníbal, se não tivesse usado os recursos da Geometria?
Por que é que o célebre e nobilíssimo César venceu as cidades gaulesas, derribou
os seus baluartes, arrasou os seus acampamentos e acabou por derrotar a Gália?
Não foi porventura porque se servia do conhecimento da Geometria?
Poderia alegar-vos muitos factos sobre os louvores e vantagens da Geometria,
mas não sem detrimento das outras artes, pois vejo que me falta o tempo que me
foi prescrito para falar. Por isso, dirijamos o nosso olhar para a Aritmética.
Esta, abarcando as proporções e medidas das coisas, ao revelar as diferentes
combinações dos pares e dos ímpares, numa ordem perfeita mostra-nos a essência
do contar, não decerto o popular, [21] de que se servem os que vendem e os que
compram, mas aquele que, mediante uma certa união, de modo suficiente inclui a
certeza das coisas com a qual se aperfeiçoam a nossa alma e virtude. E até ao homem
que tem uso de razão, em comparação com os restantes seres vivos deve dar-se-lhe
crédito, segundo diz Aristóteles, porque a natureza o proveu com a capacidade de
contar, e por isso é mais apto e idóneo para se entregar aos restantes estudos. 25
Platão teve em tão grande conta esta arte que a antepunha como primeira às restantes
disciplinas liberais. 26 E até muitos filósofos, asseverando que as almas se encontravam
unidas aos corpos mediante uma espécie de número, ensinaram que as almas eram
números que se moviam a si mesmos. 27 E pensa-se que a faculdade de contar é
de tal maneira eficaz e necessária que nenhum Estado, nenhuma cidade, nenhuma
família, nem, finalmente, a existência humana poderá subsistir sem os números. É que
Deus Óptimo Máximo tudo criou com número, peso e medida. 28 Enfim, supõe-se o
método de contar de tal modo necessário e ligado à Música que de forma alguma
pode entender-se a Música sem os números nem os números sem a Música.
Com efeito, a natureza da Música consiste no número sonoro. Os antigos
estimavam-na e veneravam-na tanto que antepunham os ouvidos ao entendimento
porque eles escutavam a Música. Atribui-se a sua descoberta a Pitágoras. [23 aliás 22]
Com efeito, o extraordinário filósofo Xenócrates diz que Pitágoras, ao olhar para
os cinzeladores e aperceber-se de que dos golpes dos martelos nascia, devido à
disposição dos pesos, uma harmonia, estendeu certas cordas, ligadas com aquele
variado peso, e por essa forma descobriu os intervalos musicais. 29 Mas, na verdade,
consoante as Sagradas Escrituras nos informam, Jubal, filho de Ada, da linhagem de
Caim, “foi pai de quantos tocam cítara e flauta”. 30 E assim os Gregos consideravam
que o máximo saber se encerrava nas melodias das cordas e das vozes, tal como se
pode provar com o exemplo de Temístocles, o qual foi tido na conta de ignorante
por se ter recusado a tocar lira num banquete. 31 E na Grécia a tal ponto os
músicos eram importantes, aplicando-se quase toda a gente a este estudo, que se
considerava que não era suficientemente culto quem ignorasse a Música. Aristóxeno,
sapientíssimo músico e filósofo, 32 considerou que a tensão do próprio corpo é a
Aritmética
Música