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ORAÇÃO DE TODAS AS CIÊNCIAS E SABERES
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dos bem-aventurados que, já livres dos corpos, contemplam a essência divina no
mais elevado deste grande globo e sempiterno domicílio de Deus Óptimo Máximo.
Só mediante ela as virtudes aumentam, os defeitos se extirpam e se mostra aquilo
que deve desejar-se e o de que cumpre fugir-se. Ela, finalmente, ensina não apenas
todas as restantes coisas, mas também aquilo que é o mais difícil: a conhecermo-
‐nos a nós mesmos e a compreendermos que, como que iluminados pela divina
sabedoria, nos tornamos homens bons e que, ao cabo, por este motivo, viremos a
ser bem-aventurados. Acerca dela pensei que mais valia calar do que proferir poucas
coisas e estas assaz inferiores à sua dignidade: é que aquilo que da sua parte tem
necessidade de louvores costuma ser ornamentado com palavras.
Por isso, passemos a ocupar-nos no nosso discurso com os nossos restantes
estudos, que, embora sejam sobremaneira honrosos, provavelmente o entendimento
humano estará em condições de abarcá-los.
Portanto, desta divina Filosofia e sacrossanta sabedoria provém o Direito Pontifício,
que encerra os decretos e disposições dos Santos Padres, o qual se julga tanto
mais digno e mais excelente e parece avantajar-se às demais ciências quanto [12]
mais se aproxima daquela divina sabedoria. O seu primeiro autor e instituidor foi
o próprio Cristo nosso Salvador, quando concedeu ao primeiro pontífice São Pedro
e aos seus sucessores a potestade divina e lhe encomendou que apascentasse o
seu rebanho, isto é, a Igreja inteira; e, dando-lhe os primeiros ensinamentos da fé,
que se encerram no Direito Pontifício, entregou-lhe, com perpétua e estável sanção,
as chaves de ligar e desatar, a fim de que aquilo que por sua vontade fizesse na
terra, ele mesmo o aprovasse no Céu, ou para que não tivéssemos qualquer dúvida
de que tem nele a sua origem o que ensinam aquilo a que se chamam os santos
Cânones, confirmados pela autoridade evangélica. Direito que nos primórdios da
Igreja foi inspirado pelo Espírito divino, esclarecido pela doutrina dos apóstolos,
ensinou a todo o mundo e o aquietou. A fim de que, se mais tarde surgisse entre os
cristãos alguma dúvida sobre alguma coisa, alguma questão, que tivesse a ver quer
com a salvaguarda da fé, quer com a conservação da religião, se devesse recorrer
com segurança às tradições da Igreja e aos santíssimos decretos dos apóstolos
e dos antigos pontífices. A este Direito, finalmente, com o passar do tempo e o
surgimento de muitas questões e depois que as ordenações cristãs aumentaram de
modo extraordinário, outros pontífices, célebres pelas suas letras e vida santa, que
nenhuma vicissitude dos tempos ou das coisas hão-de jamais fazer desaparecer da
fama e memória dos homens, [13] puseram-no num estado de perfeição tal que
nele não pode sentir-se a falta de nada mais.
A sua função é arrancar de raiz e extirpar por completo, como peçonhentos
espinheiros da horta de Cristo, isto é, da Igreja, sua queridíssima esposa, as
pestilenciais heresias dos homens ímpios, e castigar os seus autores, assaz iludidos
pelos embustes da serpente e que com desenfreado atrevimento introduzem esta
peste na cristandade; e instruir da melhor maneira com os princípios cristãos; aos
ímpios puni-los ou também socorrê-los, aos ignorantes aconselhá-los e ensinar-lhes
Direito
Pontifício