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INTRODUÇÃO
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[3]
O Mestre Jerónimo de Brito
Saúda o Invictíssimo e Cristianíssimo Rei de Portugal
D. João, o Terceiro deste Nome
Decidi, invictíssimo rei, mandar imprimir e publicar o discurso que, em
conformidade com a usança académica, recentemente pronunciei em público acerca
dos louvores das ciências, todavia com o desígnio de que não deveria atribuir-se a
sua edição ao incitamento dos amigos (sob outro aspecto, para que nada se oculte,
teria preferido): nunca sucumbi à sua influência. Tão-pouco fui seduzido pelo
desejo de alguma glória (pois nunca pensei que por isto se me deveria conceder
alguma), mas unicamente induzido pela vossa bondade, ainda que seja muito mais
arriscado apresentar-se alguém ao julgamento dos olhos do que ao dos ouvidos.
O quanto me apliquei na tarefa a que me votei, mostrá-lo-ia a Vossa Alteza até por
esta forma, como aquele que, cumprindo o vosso encargo, me desloquei para esta
vossa florentíssima Academia de Coimbra para cultivar a minha inteligência e aí fui
instruído pelos melhores mestres nas primeiras letras e nos preceitos da Lógica e
da Filosofia e, ao cabo, empreendi o estudo da sacrossanta Teologia. Pelo menos a
este título, como era justo, pareça-vos [4] que vos cumprimento e de certa maneira
vos agradeço pelos inexcedíveis benefícios que me oferecestes a mim e aos vossos
súbditos. E assim como vemos que os rios que manam do mar voltam sempre para
o mesmo, assim, óptimo progenitor das boas letras, a própria Academia pareça que
só através de mim vos oferece os seus frutos, dos quais vós, ó maior dos reis, sois
como uma espécie de produtor.
Demais, defendido com a vossa protecção, pensei que agora, ao mostrar-me
em público, nunca deveria dar de mão a esta confiança que concebi ao aceitar
o encargo ou até ao desempenhá-lo, e com toda a intrepidez arrostei as diversas
opiniões críticas dos homens, principalmente daqueles que, julgando que algumas
coisas, quanto mais recentes, tanto mais agradáveis são, têm por costume criticar o
que os varões sábios aprovaram: de maneira que, amparado com a vossa bondade,
já não receava mais aquilo que anteriormente parecia reter-me no meu intento.
Por conseguinte, rogo-vos que, com a mesma benevolência e rosto prazenteiro
com que costumais receber todos os frutos da vossa Academia, aceiteis de mim este
pequeno presente que com não pequeno desvelo compus em obséquio das letras e