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5- orações da sapiência

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INTRODUÇÃO

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diz Cipriano, que soberbas de homens arrogantes não teve de suportar primeiro o

ambicioso? A quantos altivos umbrais se postou o cortesão matutino? E que dizer do

facto de que, integrando o esquadrão dos clientes, caminhou à frente das passadas

insolentes dos inflados, por forma a que os outros companheiros de adulação marchem

também imediatamente à sua frente no cortejo, em que se presta homenagem não

ao homem, mas ao poder? Por derradeiro, a preço de que torpezas compra o ser

ilustre? [Cyprian. lib. 2 epist. 2] Ela, com uma incrível e deveras espantosa filáucia

indevidamente se apropriando e falsamente se arrogando a glória e superioridade,

que são os prémios da verdadeira virtude e de justiça se devem aos aplicados,

extinguiu e causou a ruína daquela sublime humildade e virtude verdadeiramente

evangélica, e provocou a hipocrisia e a simulação.

A isto acresceu a avareza, aquela peçonha mortífera e pestilencial, que é a coisa

mais prejudicial e perniciosa que pode imaginar-se ou conjecturar-se, a qual devorou

e derribou o que se salvara do granizo. E, tal como aquele vento abrasador de

[Bii vº] que Oseias faz menção, estancou as fontes e secou os regatos (entenda-se,

da caridade), roubando o tesouro de todos os seus vasos apetecíveis: quer dizer,

da justiça e da piedade. [Os 13. 15] “Esta”, conforme diz Basílio Magno, “não se

lembrou da comum natureza. Não considerou que é mister distribuir o supérfluo

pelos pobres. Não atendeu ao que está preceituado. O avarento é infeliz devido

à abundância, miserável devido aos bens presentes, mais miserável devido às

eventualidades futuras que imagina. Só vê ouro, só imagina ouro, ao dormir, este

tira-lhe o sono, e senhoreia-se do seu espírito, quando está desperto, e deseja que

tudo se transforme na natureza do ouro; olha com mais alegria para o ouro do que

para o Sol.” [Basil. Conc. de Auarit.] Cipriano diz que ela é uma odiosa cegueira do

entendimento e que as profundas trevas da insana cobiça servem unicamente para

que se não possa possuir outra coisa. [Cyprian. lib. 2 epist 2] Finalmente, ela tudo

tinge, afeia, mancha, infecciona, corrompe e contamina com a sua nódoa.

Por conseguinte, se atentamente observarmos, destas tentações encontraremos

a primeira no deserto, entre os homens carnais e animais, que, tal como gado, são

arrastados pelos sentidos e pelo prazer. A segunda em Jerusalém, na Cidade Santa,

na Casa de Deus, no templo e no pináculo do templo. A terceira nas montanhas.

Ora, conta S. Mateus: «Chegando o tentador, disse a Cristo: Se és Filho de Deus,

ordena que [Biii] estas pedras se convertam em pães». [Mt 4. 3.] Que é que maquina

essa maligna e mofina criatura? Cristo não haveria de transformar as pedras em pão

– este poder não pode certamente negá-lo aquela criatura arteira –, mas sim pão na

carne que daria a vida ao mundo. [Jo 6. 33] Por isso os sequazes de Satanás não são

capazes de compenetrar-se ou persuadir-se a si mesmos de que é possível que o

homem não ficou de tal maneira sujeito ao alimento e aos torpíssimos prazeres da

carne que não se deleita em outra coisa alguma. Uma vez que “não só de pão vive

o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus,” [Mt 4. 4] conforme diz

Cristo, ou seja, das divinas conversas e familiaridade com Deus, que é “a verdadeira

comida, que não perece, mas que dura até à vida eterna,” [Jo 6. 27] que sabe mais

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