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5- orações da sapiência

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ORAÇÃO DE TODAS AS CIÊNCIAS E SABERES

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Portanto, benévolos ouvintes, escutastes uma pequeníssima parte do que se deve

a todos os ramos do saber e da grande honra e autoridade que lhes foram atribuídas

pelos Antigos. Cremos, todavia, que as ciências não foram descobertas por diligência

ou deliberação humanas, mas sim oferecidas por mercê de Deus Óptimo Máximo,

primeiro a Adão e ao povo hebreu, e depois aos homens gregos. É que toda [30] a

sabedoria provém do Senhor Deus e esteve e sempre está com Ele antes do tempo,

e Ele mesmo a criou no Espírito Santo, e derramou-a sobre todas as Suas obras

e sobre toda a carne em conformidade com a Sua dádiva. Estas ciências, todavia,

por não sei que ultraje do tempo, ou por desleixo, ou até por vontade da divina

providência, desde há muitos anos atrás que se mantiveram como que sepultadas,

até que finalmente, de novo por providência do mesmo Deus, reviveram, primeiro

na França, depois na Espanha e, por derradeiro, em Portugal.

A excelente e feliz posse das mesmas, de que hoje desfrutamos, deve atribuir-

‐se, se não na qualidade de criador, sem dúvida na de governante e zelador, como

inexcedível patrono das boas artes, ao nosso Rei D. João, deste nome o terceiro.

O qual se esforçou, não só por desterrar da Pátria aquela rudeza e barbárie, que se

apossara inteiramente de Portugal, mas também, como que juntando as coisas divinas

às humanas, por que a própria nação assentasse, e às demais muito se avantajasse,

tanto nos melhores preceitos da fé (nos quais Portugal sempre abundou), da mais pura

religiosidade e santidade, como nas boas letras e na civilidade. Com isto alcançou

tamanha glória que não só igualou, como de longe superou os outros triunfos que

conquistara com as acções militares e vitórias conseguidas, vencendo quase toda a

África e Ásia. [31] Finalmente, acomodou para os sábios a mui frequentada cidade

de Coimbra, que os seus antepassados escolheram como sua morada perpétua, por

forma a, submetendo-se ele próprio à sabedoria, dar lugar à mesma, a fim de que

na mesma cidade em que anteriormente os reis recebiam as insígnias e diademas

da soberania, aí os varões sábios ostentassem as palmas e coroas da sabedoria.

Resta agora, benévolos ouvintes, que enfim conclua o que me propusera dizer,

e assim como de certa maneira vos abri as fontes das artes, assim vos admoeste

em favor do dever e da religião, para que doravante muito mais apaixonada e

desveladamente vos consagreis aos estudos com que agora vos ocupais, e que

neles não busqueis prémios e glória humana, que depressa se perdem, mas sim

que proponhais como fim dos vossos trabalhos o próprio Deus Óptimo Máximo,

tendo unicamente presente no espírito que o “o temor do Senhor é o princípio do

conhecimento” 49 e que ela nunca entrou num espírito mal intencionado. E, assim,

que cada um de vós, repelindo primeiro as inquietações da alma, que além disso

serão embaraço para as palavras, apazigúe a mesma alma com as virtudes, e com o

máximo empenho acate os divinos mandados, na obediência aos quais se cifra toda

a ciência. Por derradeiro, com a mais completa humildade sempre dê ouvidos aos

escritos dos santos Padres e ao ensino da Igreja [32] e por inteiro submeta a cerviz

ao doce jugo, escravizando a inteligência em obséquio à fé, para evitar que, assim

como os que fitam o Sol ficam com a visão destruída pelos raios dele, da mesma

Rei D. João

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