18.02.2020 Views

5- orações da sapiência

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

INTRODUÇÃO

2 4 5

frei Luís de Sousa, ao apontá-la como um dos laços que mais aproximava os dois

irmãos destinados a seguirem uma carreira religiosa paralela.

Depois, causa-nos algum enleio o modo como o cronista de S. Domingos alude

à escolha que ambos os irmãos fizeram do sobrenome de família que passaram a

adoptar quando foram guindados à dignidade episcopal – Távora – e que faz supor

que este apelido lhes cabia por linha feminina. Conquanto tal seja perfeitamente

possível, dada a frequente consanguinidade dos cônjuges de famílias nobres, o que

lográmos coligir sobre a linhagem do nosso Autor faz-nos pender para a suposição

de que o Távora lhe advinha da bisavó paterna. De facto, segundo a Pedatura

Lusitana, Diogo Fernandes Cardoso foi casado com uma senhora de apelido Távora,

nascendo desta união Gonçalo Fernandes Cardoso, de entre cuja prole se destacam

como varão primogénito o doutor Simão Gonçalves Cardoso, que foi chanceler

da Casa do Cível e desembargador dos agravos da Casa da Suplicação, 7 e Fernão

Cardoso, pai do nosso Autor. 8 Do agudo engenho, felicidade de linguagem e graça

natural desta personagem, com relevo social na corte de D. João III, 9 ficaram-nos

diversos registos escritos contemporâneos que nos permitem corroborar a justeza das

palavras de encarecimento do seu conterrâneo frei Luís de Sousa. Assim, além da sua

participação no Cancioneiro Geral, de Garcia de Resende, para o qual contribuiu com

oito composições, 10 o conhecido repositório, coligido por um anónimo quinhentista,

de Ditos Portugueses Dignos de Memória, 11 recolhe nada menos que quarenta e

seis historietas centradas nas respostas e ditos sentenciosos do pai de Jerónimo de

Brito. 12 Ainda cerca de 1624 Manuel Severim de Faria, doutrinando sobre os três

7

Veja-se Maria do Rosário de Azevedo Cruz, As Regências na Menoridade de D. Sebastião,

Lisboa, INCM, 1992, volume 1º, pp. 149 e 165.

8

Cristóvão Alão de Morais, Pedatura Lusitana, Braga, Edições Carvalhos de Basto, 1998,

volume 5º, p. 108. – Esta referência devo ao saber linhagístico de José Alexandre Sarmento,

cuja fraterna, firmíssima, prestante e diamantina amizade é um raro oásis e fonte de alento

no vasto areal de tolice em que temos de caminhar e por vezes as forças nos falecem.

9

De uma das suas composições poéticas colige-se que militou em Safim; sabemos também

que foi feitor da Mina e vencia moradia na Casa Real; frei Luís de Sousa, seu conterrâneo, quase

contemporâneo e homem obrigado pela sua profissão religiosa a não faltar à verdade, diz dele,

como vemos, que “foi de geração nobre”: tudo isto, no entanto, não foi óbice para que, indefesso

na calúnia e no dislate gratuito, o anotador da edição moderna dos Ditos Portugueses que mais

abaixo se referencia, tenha escrito: “Fernão Cardoso, homem de origem popular”...

10

Garcia de Resende, Cancioneiro Geral, Fixação do texto e estudo por Aida Fernanda

Dias, Lisboa, INCM, 1993, volume 3º, pp. 556-560. – Entre os trinta e um poemas com que o

Prof. Rodrigues Lapa formou o seu Florilégio do Cancioneiro de Resende, Lisboa, Textos

Literários, 1960, uma das eleitas é o poema de Cardoso Indo-se polas serras de Ansião, que

pode ler-se na p. 20.

11

A única edição impressa desta obra, da qual existem inúmeras cópias manuscritas, é a

das Publicações Europa-América, “anotada e comentada por José Hermano Saraiva”.

12

Também se recolhe aí um mot d’ esprit de uma irmã sua, que demonstra que, à semelhança

do outro irmão frei Fernando de Távora, era bem filha de seu pai “na graça”. Vd. Frei Luís de

Sousa, obra e lugar citados.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!