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INTRODUÇÃO
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frei Luís de Sousa, ao apontá-la como um dos laços que mais aproximava os dois
irmãos destinados a seguirem uma carreira religiosa paralela.
Depois, causa-nos algum enleio o modo como o cronista de S. Domingos alude
à escolha que ambos os irmãos fizeram do sobrenome de família que passaram a
adoptar quando foram guindados à dignidade episcopal – Távora – e que faz supor
que este apelido lhes cabia por linha feminina. Conquanto tal seja perfeitamente
possível, dada a frequente consanguinidade dos cônjuges de famílias nobres, o que
lográmos coligir sobre a linhagem do nosso Autor faz-nos pender para a suposição
de que o Távora lhe advinha da bisavó paterna. De facto, segundo a Pedatura
Lusitana, Diogo Fernandes Cardoso foi casado com uma senhora de apelido Távora,
nascendo desta união Gonçalo Fernandes Cardoso, de entre cuja prole se destacam
como varão primogénito o doutor Simão Gonçalves Cardoso, que foi chanceler
da Casa do Cível e desembargador dos agravos da Casa da Suplicação, 7 e Fernão
Cardoso, pai do nosso Autor. 8 Do agudo engenho, felicidade de linguagem e graça
natural desta personagem, com relevo social na corte de D. João III, 9 ficaram-nos
diversos registos escritos contemporâneos que nos permitem corroborar a justeza das
palavras de encarecimento do seu conterrâneo frei Luís de Sousa. Assim, além da sua
participação no Cancioneiro Geral, de Garcia de Resende, para o qual contribuiu com
oito composições, 10 o conhecido repositório, coligido por um anónimo quinhentista,
de Ditos Portugueses Dignos de Memória, 11 recolhe nada menos que quarenta e
seis historietas centradas nas respostas e ditos sentenciosos do pai de Jerónimo de
Brito. 12 Ainda cerca de 1624 Manuel Severim de Faria, doutrinando sobre os três
7
Veja-se Maria do Rosário de Azevedo Cruz, As Regências na Menoridade de D. Sebastião,
Lisboa, INCM, 1992, volume 1º, pp. 149 e 165.
8
Cristóvão Alão de Morais, Pedatura Lusitana, Braga, Edições Carvalhos de Basto, 1998,
volume 5º, p. 108. – Esta referência devo ao saber linhagístico de José Alexandre Sarmento,
cuja fraterna, firmíssima, prestante e diamantina amizade é um raro oásis e fonte de alento
no vasto areal de tolice em que temos de caminhar e por vezes as forças nos falecem.
9
De uma das suas composições poéticas colige-se que militou em Safim; sabemos também
que foi feitor da Mina e vencia moradia na Casa Real; frei Luís de Sousa, seu conterrâneo, quase
contemporâneo e homem obrigado pela sua profissão religiosa a não faltar à verdade, diz dele,
como vemos, que “foi de geração nobre”: tudo isto, no entanto, não foi óbice para que, indefesso
na calúnia e no dislate gratuito, o anotador da edição moderna dos Ditos Portugueses que mais
abaixo se referencia, tenha escrito: “Fernão Cardoso, homem de origem popular”...
10
Garcia de Resende, Cancioneiro Geral, Fixação do texto e estudo por Aida Fernanda
Dias, Lisboa, INCM, 1993, volume 3º, pp. 556-560. – Entre os trinta e um poemas com que o
Prof. Rodrigues Lapa formou o seu Florilégio do Cancioneiro de Resende, Lisboa, Textos
Literários, 1960, uma das eleitas é o poema de Cardoso Indo-se polas serras de Ansião, que
pode ler-se na p. 20.
11
A única edição impressa desta obra, da qual existem inúmeras cópias manuscritas, é a
das Publicações Europa-América, “anotada e comentada por José Hermano Saraiva”.
12
Também se recolhe aí um mot d’ esprit de uma irmã sua, que demonstra que, à semelhança
do outro irmão frei Fernando de Távora, era bem filha de seu pai “na graça”. Vd. Frei Luís de
Sousa, obra e lugar citados.