Saberes da Extensão - ANAIS DO I SEMINÁRIO
EDIÇÃO I . NOVEMBRO 2019
EDIÇÃO I . NOVEMBRO 2019
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Cineclube cidadão: extensão estimulando a pesquisa e apoiando o ensino
Pierre Bourdieu (1979), importante sociólogo do
final do século XX, aponta que as decisões sobre a
natureza dos filmes que as pessoas escolhem assistir
se relacionam profundamente com seu habitus e com
o campo social ao qual pertencem, traduzindo “uma
certa disposição, valorizada socialmente, para analisar,
compreender e apreciar qualquer história contada
em linguagem cinematográfica” (DUARTE, 2002,
P. 7). Oportunizar que os estudantes experienciem
exibições fílmicas diversas, ao longo de sua formação,
permite que eles se apropriem de capital cultural ao
qual não teriam acesso no seu campo social original.
No contexto de apropriação da linguagem cinematográfica,
mais importante se torna o papel que
a escola pode – e deve – desempenhar. Segundo Dinis
(2005), as mídias sociais e as alterações na nossa
relação com os tempos e espaços de aprendizagem
devido às variadas fontes de informação disponíveis
na modernidade criam a necessidade de formarmos
o olhar de nossos estudantes para perceberem possíveis
erros e até mesmo tentativas de manipulação.
Discutir por meio do cinema em nossas escolas as
relações de poder que são apresentadas, as ideologias
intrínsecas às formas de narrar o mundo dos filmes,
as concepções de mundo que estão por trás dos olhares
de produtores, diretores e distribuidores poderia
ser um momento enriquecedor.
Pesquisas recentes (PEREIRA, SÁ e FONSECA,
2017) apontam que os professores utilizam os recursos
fílmicos de maneira estruturada e planejada.
Como reflexo desta ação, as solicitações de exibição
atendidas nos últimos anos promovem o diálogo entre
ações que estejam sendo realizadas pelas escolas
do entorno do campus – projetos interdisciplinares,
eventos ou ações integradoras – e as obras exibidas.
As solicitações de exibição são realizadas no site do
campus Betim, na aba “extensão”, onde a instituição
solicitante preenche um formulário, apontado informações
de contato, as temáticas desejadas e as melhores
datas para realizarmos a sessão, bem como o
número de participantes da sessão e as séries escolares
envolvidas. A partir destas informações, os monitores
do cineclube atuam com a curadoria de obras audiovisuais
que atendam às demandas solicitadas. Para tanto,
os monitores participam de reuniões de formação
no início do ano letivo, onde discutimos a importância
da linguagem cinematográfica na construção da
modernidade e suas implicações na educação.
As sessões são realizadas com uma discussão inicial,
onde reforçamos as questões que a escola apresenta
como motivadoras da exibição do filme. Após a
exibição integral do filme, a equipe do cineclube procura
estimular a fala dos membros da comunidade
externa, através do questionamento sobre as percepções
das partes mais interessantes do filme exibido.
Neste primeiro momento, as associações realizadas
são livres, de maneira a estimular a participação de
todos. A seguir, questões produzidas pela equipe são
inseridas na discussão, visando orientar a mesma no
sentido da temática apresentada pelo corpo docente
da escola na solicitação da sessão. De uma maneira
geral, as sessões duram entre 45 minutos e uma hora
além do tempo de projeção do filme.
O Cineclube Cidadão também organiza sessões
internas, por demanda dos estudantes do campus
Betim ou de nossos professores. Assim, sob a curadoria
dos monitores do projeto, realizamos exibições
semanais voltadas ao público interno do campus Betim.
Neste caso, são elaborados temas mensais para
a exibição, que ocorre em momentos da semana em
que percebemos que os estudantes têm maior disponibilidade
de acordo com as cargas horárias.
Por demanda dos professores também realizamos
exibições especiais em que discutimos filmes específicos
que permitem aos nossos discentes perceber a
representação de eventos ocorridos em tempos e espaços
diferentes daqueles em que estão vivendo.
Apesar do cinema buscar a representação do
real, devemos nos lembrar que ele não o é. (...)
Usar o cinema para explorar outros espaços
e tempos, a partir dos dramas humanos relatados
nas obras será uma experiência importante
para tornar nossos estudantes mais
abertos ao outro. Estimular a alteridade
atraindo a atenção dos estudantes para essas
outras realidades pode ser uma interessante
maneira de trabalhar filmes em sala de aula.
(PEREIRA, 2018)
A seguir, apontamos alguns dos resultados e discussões
que estes três anos de projeto trouxeram.
Também apontamos algumas das dificuldades na sua
implementação e novos caminhos que pretendemos
trilhar nos próximos anos.
35