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Saberes da Extensão - ANAIS DO I SEMINÁRIO

EDIÇÃO I . NOVEMBRO 2019

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Estradas de Vila Rica a Cachoeira do Campo: dos antigos

caminhos a estrada de Dom Rodrigo José de Menezes

veio para as Minas com sua esposa, passaram a residir

em Cachoeira do Campo, arraial estratégico por excelência,

no Palácio dos Governadores construído em

1730 por iniciativa do Conde das Galveias. Essa imponente

residência seria ampliada por Dom Rodrigo já

em 1782. No começo da década de 1780, tomou como

primeira providência reformar os caminhos que conduziam

à capital, uma vez que estavam em precário

estado de conservação e tornavam-se intransitáveis

em épocas de chuva. Deliberou também construir

mais três vias: a Estrada entre Vila Rica e Mariana,

a Estrada da Soledade (a qual rumava ao Rodeio, no

atual distrito de Miguel Burnier) e a Estrada da Cachoeira.

Todas estas dotadas de muros de arrimo, chafarizes

e obras de arte. Dentre estas, merece destaque

a Estrada de Cachoeira. Esta via era parte essencial e

considerada um prolongamento das obras que Dom

Rodrigo empreendeu no Palácio de Campo.

As diversas cartas régias, que pediam abertura e

melhoria dos caminhos que ligavam Vila Rica aos

principais pontos do país no século XVIII, apontam

a importância que as estradas tinham (e ainda têm)

para o desenvolvimento local. De fato, essas estradas

possuem papel de destaque na construção histórica

e urbanística do município de Ouro Preto. O Chafariz

de Dom Rodrigo de Menezes, que se localiza

no caminho entre Cachoeira e Vila Rica, continua

como testemunha dessa época áurea e o seu processo

de tombamento, finalizado em 2007, é mais um

fator que indica essa relevância. O caminho de Dom

Rodrigo foi visitado e descrito por vários viajantes

estrangeiros ao longo do século XIX. O olhar desses

estudiosos é de vital importância para quem deseja

analisar as velhas cidades mineradoras e seus caminhos.

Cumpre destacar, por ser bem minucioso, o

relato do Dr. Johann Emanuel Pohl, que esteve nas

Minas em 1819. Esse naturalista austríaco descreveu

a estrada que percorreu entre Vila Rica e Cachoeira

do Campo, onde visitou, além do Palácio, a casa

de um compatriota seu e o Quartel da Cavalaria

(pela época, já transformado na Coudelaria Real).

Diminuto, todavia revelador, é o trecho referente ao

Chafariz: “chegamos a uma fonte murada, obra de

um ex-governador [certamente Dom Rodrigo], que

estava ameaçada de ficar sepultada por um desmoronamento.”

2 . Vê-se, desta forma, que os problemas

do Chafariz não datam de hoje - por localizar-se sob

um paredão de pedra, em vários momentos foi ame-

açado. São Bartolomeu encontrava-se a meio caminho

da estrada, ao sopé da serra, de onde partiam

caminhos secundários que atingiam o Caraça, Catas

Altas do Mato Dentro e Santa Bárbara (e desta

à Comarca do Serro). Outras trilhas mais curtas se

esgueiravam pela serra em direção à Estrada de Dom

Rodrigo: desta, à esquerda, rumava-se à antiga Vila

Rica ou, à direita, ao Arraial da Cachoeira e seus arredores.

No outro contraforte da serra está o atual

distrito de Rodrigo Silva, que posteriormente ocuparia

papel central na construção dos novos caminhos

às minas. Diante desse contexto, percebe-se a real

necessidade de medidas urgentes de proteção dessas

estradas, visto que sua história está intimamente ligada

aos distritos de São Bartolomeu, Cachoeira do

Campo e Rodrigo Silva.

As Estradas Reais, que nos tempos coloniais exerciam

importante função de circulação em Vila Rica,

hoje formam um caminho potencialmente turístico

que retrata um importante período da história do

país. Muitas políticas vêm tratando de promovê-las e

ações são desenvolvidas para garantir a preservação

do patrimônio existente nesses caminhos. Como explica

Márcio Santos:

Tem-se falado com frequência de um antigo caminho

conhecido como Estrada Real, que percorria

vasta área no centro-sul do Brasil, tendo

como destino principal a região das minas de

ouro e diamante da capitania de Minas Gerais.

O tema tem atraído o interesse dos mais

diversos setores, sendo alvo de iniciativas de

agências e órgãos governamentais, empresas

privadas, organizações não governamentais e

pesquisadores individuais. Ações tem sido desenvolvidas

para que se possa recuperar e conservar

o que restou da antiga via, garantindo a

preservação do patrimônio histórico existente

no seu leito e no seu entorno e preparando-a

para se tornar um produto turístico. 3

As ações de extensão do presente projeto são realizadas

junto às comunidades de São Bartolomeu

(e subdistritos de Maciel, Engenho d’Água, Chapéu

do Sol e Mutuca), Cachoeira do Campo (e subdistritos

de Serra do Siqueira e Tabuões) e Rodrigo Silva

(povoado de Boa Vista e Bico de Pedra). São parte

ou consequências dessas ações: comparecimento às

2

POHL, Johann Emanuel. Viagem no Interior do Brasil, pp.427-429.

3

SANTOS, Márcio. Estradas Reais, p. 22.

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