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Saberes da Extensão - ANAIS DO I SEMINÁRIO

EDIÇÃO I . NOVEMBRO 2019

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Estradas de Vila Rica a Cachoeira do Campo: dos antigos

caminhos a estrada de Dom Rodrigo José de Menezes

INTRODUÇÃO

São Bartolomeu é um distrito do município de

Ouro Preto composto por um vasto território rural

e uma pequena área urbana que abriga importantes

obras da arquitetura luso-mineira, como a

antiga Matriz (tombada pelo IPHAN) e a Capela de

Nossa Senhora das Mercês, bem como um conjunto

de casario tombado a nível municipal. Destacam-se

ainda a produção artesanal de doces caseiros, registrados

como patrimônio imaterial, nacionalmente

famosos. Rodrigo Silva é outro distrito, com imensa

área rural e pequeno núcleo urbano. Destaca-se no

povoado o conjunto ferroviário, também tombado,

e a antiquíssima Capela de Santa Quitéria da Boa

Vista, em processo de tombamento. Cachoeira do

Campo já possui grande área urbanizada, sendo o

maior entre todos os distritos. Apresenta rico acervo

histórico, herdado do período colonial, quando

figurava como arraial de destaque nas Minas, sendo

escolhido como residência dos governadores.

Algo que se sobressai nesses povoados são as longas

estradas construídas no período colonial, quase

todas desconhecidas dos visitantes ou mesmo do

poder público. As comunidades sempre tiveram elos

com essas estradas (chamadas por alguns de “caminhos

de escravos”), estando ligadas a esses bens por

tradições antigas ou como uma forma, ainda existente,

de trajeto e locomoção. As pontes e chafarizes,

alguns ainda em funcionamento, são alvo de atenção

dos mais velhos e em geral desconhecidos dos mais

novos. Tratam-se de estruturas imensas, com obras

imponentes, sendo, sem dúvidas, algumas das maiores

realizações da engenharia setecentista no Brasil.

Sabemos, contudo, que a proteção legal desses bens,

desacompanhada das comunidades, praticamente

não configura boa eficácia.

O objetivo do projeto se baseia na contribuição para

a proteção e salvaguarda do patrimônio da malha viária

colonial dos distritos de São Bartolomeu, Cachoeira

do Campo e Rodrigo Silva (desde que seja de interesse

cultural, arqueológico e natural), significando-o

nas comunidades detentoras desses bens e estimulando

a cidadania ativa, participativa e corresponsável.

Nesse contexto, ações extensionistas ligadas ao patrimônio

- que busquem o sentido presente das heranças

materiais e imateriais do passado, justificam

a existência dos bens, colocando o homem no centro

dessa discussão 1 . Logicamente, a educação patrimonial

e a arqueologia pública são ferramentas fundamentais

nesse processo.

O projeto extensionista “Estradas de Vila Rica a

Cachoeira do Campo: dos antigos caminhos a estrada

de Dom Rodrigo José de Menezes” visa estabelecer

e fortalecer os elos existentes entre essas comunidades

e os bens, muitos dos quais isolados, mas

ainda muito ligados à população local. O diálogo

com a comunidade diretamente envolvida pelo tombamento

é essencial para a relação de proteção. Na

medida em que a comunidade participa das tomadas

de decisão, são naturalmente colocadas em uma situação

diferenciada de reflexão, a qual nunca antes

exercitaram. Nesse caso, as políticas patrimoniais de

educação aparecem como mediadoras entre a comunidade

e o Estado.

Ao invés de focar única e exclusivamente nos aspectos

mais técnicos, a extensão mostra a educação

patrimonial na prática, desafiando aquilo que

é aprendido dentro da sala de aula à uma prova de

campo. Atuando-se diretamente com a comunidade,

tem-se uma compreensão mais ampla da problemática

do restauro, do urbanismo e de outras áreas afins.

Na esfera ambiental e/ou arqueológica, o projeto

contribui para a conservação do trajeto como ambiente

de uso coletivo - futuramente espaço com potencial

destino turístico (desde que esse processo seja conduzido

de forma consciente e responsável). Ainda há de

frisar que uma das consequências visíveis será, por

exemplo, o conhecimento sobre as técnicas construtivas

vernaculares das vias setecentistas, o que futuramente

poderá subsidiar a criação de mídias sociais

que possam divulgar, de forma democrática, todo o

material levantado em todas edições desse projeto.

DESENVOLVIMENTO

(FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

E METODOLOGIA)

Dom Rodrigo tomou posse como governador da

Capitania das Minas em 1780, sendo a solenidade realizada

na Igreja de Nossa Senhora do Pilar, em Vila

Rica, como era costume. O Conde de Cavaleiros - título

nobre e honorífico que Dom Rodrigo ostentava -

1

Vide BEZERRA, M. Os sentidos contemporâneos das coisas do passado: reflexões a partir da Amazônia. Revista de Arqueologia Pública, n.7, julho 2012.

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