Arátor. História Apostólica - Universidade de Coimbra
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<strong>Arátor</strong><br />
O Egipto sustenta a imagem do mundo: o povo merecedor<br />
<strong>de</strong> ser daí chamado foi entregue a dois comandantes,<br />
cuja missão foi unida pelos laços fraternais do nascimento 101 .<br />
Inúmeros ídolos, que em Roma tinham sido acumulados<br />
do mundo submetido, esmagavam os corações sujeitos às trevas.<br />
E esse povo livre, a quem antes o Faraó acorrentara,<br />
saiu, com o mesmo número <strong>de</strong> guias, das sombras do Egipto<br />
e, pelo baptismo <strong>de</strong> Deus, representado na altura pela imagem do mar,<br />
<strong>de</strong>scobriu o celeste alimento, ao encontrar o caminho da vida.<br />
Também aqueles estavam irmanados pelo amor, para cuja amplidão<br />
os actos se sobrepuseram à natureza; estes gémeos, apresentou-os<br />
[aos Céus<br />
não o mesmo mas um dia igual, e, estando volvido o tempo<br />
<strong>de</strong> um ano, a paixão consagrou o dia repetido 102 ,<br />
e a graça <strong>de</strong>sta aliança obtém a eterna palma.<br />
101 Trata-se, evi<strong>de</strong>ntemente, <strong>de</strong> Moisés e Aarão, a quem Deus<br />
confiou a libertação do cativeiro do Egipto (cf. Ex. 4 e 5). O<br />
cotejo entre Moisés e Aarão, irmãos <strong>de</strong> sangue, e Pedro e Paulo,<br />
irmãos pelo martírio, tem um alcance que vai além da libertação<br />
dos povos, aqui referida por <strong>Arátor</strong>. Na verda<strong>de</strong>, se Moisés e Pedro<br />
se assumiram como os primeiros chefes <strong>de</strong> dois povos, o israelita<br />
e o cristão, Aarão e Paulo <strong>de</strong>stacaram-se pela sua eloquência,<br />
imprescindível em ambos os casos.<br />
102 Numa solenida<strong>de</strong> que remonta ao século III ou IV, a Igreja<br />
celebra os dois santos no dia 29 <strong>de</strong> Junho, data presumível do<br />
seu martírio. O poeta segue a tradição que afirmava terem sido<br />
ambos martirizados no mesmo dia, volvido exactamente um ano.<br />
A atestar estas afirmações <strong>de</strong> <strong>Arátor</strong>, Prudêncio, no poema Passio<br />
apostolorum Petri et Pauli (hino 12 do Peristephanon), <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
relatar o crucifixão <strong>de</strong> Pedro (vv. 11-20), narra o martírio <strong>de</strong> Paulo<br />
às mãos <strong>de</strong> Nero, dizendo: “Quando a órbita perfeita do círculo<br />
solar percorreu o trajecto <strong>de</strong> um ano completo / e o Sol, nascido<br />
<strong>de</strong> novo, trouxe o mesmo dia, / Nero lançou a sua raiva ar<strong>de</strong>nte<br />
contra o pescoço <strong>de</strong> Paulo: / or<strong>de</strong>na que seja sacrificado o mestre<br />
dos gentios” (vv. 21-24, tradução nossa).<br />
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