Arátor. História Apostólica - Universidade de Coimbra
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<strong>Arátor</strong><br />
[Secção XVIII]<br />
[Passo em que, na ilha <strong>de</strong> Malta, quando S. Paulo<br />
juntava vi<strong>de</strong>s para a fogueira, uma víbora se lhe agarrou à mão;<br />
aquele a quem os bárbaros consi<strong>de</strong>ravam homicida e julgavam<br />
moribundo atirou a víbora para a fogueira; os que tinham<br />
pensado que morreria mal aparecesse o tumor <strong>de</strong> tal forma se<br />
maravilharam por estar ileso que o chamavam Deus.]<br />
Para repelir o frio que crescia das chuvas, Paulo juntara<br />
sarmentos para a fogueira. Eis que uma víbora, envergando as armas<br />
do Demónio e indo ao encontro das chamas ascen<strong>de</strong>ntes, se lhe cravou<br />
na mão com a antiga ferocida<strong>de</strong> e, junto ao fogo, lhe causou<br />
[uma ferida<br />
com seu gélido veneno. Porque <strong>de</strong>sejas ainda, malvada e criminosa<br />
serpente, <strong>de</strong>sviar [os homens] para longe do Senhor e, na<br />
[novida<strong>de</strong> da lei,<br />
preparas velhas rapinas? Por que razão, ó amante da morte,<br />
<strong>de</strong> quem tu és a própria mãe, renovas teus combates contra os redimidos?<br />
Vens como predadora, mas ficas aí como presa e, ministrando daí<br />
a morte, és <strong>de</strong>struída, ó enganadora, pelos ramos <strong>de</strong> outra árvore,<br />
e, após a cruz <strong>de</strong> Cristo, uma porção <strong>de</strong> lenho significa para ti a morte 95 .<br />
Não muito longe dali, possuidores <strong>de</strong> um coração agreste,<br />
estavam os filhos <strong>de</strong> um povo bárbaro, que, num terrível murmúrio,<br />
vociferaram em uníssono: “Este aqui é sem dúvida culpado<br />
95 Des<strong>de</strong> o início da secção (v. 1156), <strong>Arátor</strong> estabelece o<br />
paralelo entre a serpente genesíaca que enganou Eva e a serpente<br />
que atentou, em Malta, contra a vida do Apóstolo. O poeta assinala,<br />
porém, uma diferença fundamental: enquanto a primeira serpente,<br />
usando como pretexto a árvore (Gn. 3.1-5), saiu vencedora e trouxe<br />
consigo a morte espiritual, agora a mesma serpente é duplamente<br />
<strong>de</strong>struída pelos “ramos <strong>de</strong> uma outra árvore”, a saber, pelas vi<strong>de</strong>s<br />
com que Paulo a queimou no fogo e pelo lenho da cruz <strong>de</strong> Cristo.<br />
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