1240 1245 1250 <strong>Arátor</strong> O Egipto sustenta a imagem do mundo: o povo merecedor <strong>de</strong> ser daí chamado foi entregue a dois comandantes, cuja missão foi unida pelos laços fraternais do nascimento 101 . Inúmeros ídolos, que em Roma tinham sido acumulados do mundo submetido, esmagavam os corações sujeitos às trevas. E esse povo livre, a quem antes o Faraó acorrentara, saiu, com o mesmo número <strong>de</strong> guias, das sombras do Egipto e, pelo baptismo <strong>de</strong> Deus, representado na altura pela imagem do mar, <strong>de</strong>scobriu o celeste alimento, ao encontrar o caminho da vida. Também aqueles estavam irmanados pelo amor, para cuja amplidão os actos se sobrepuseram à natureza; estes gémeos, apresentou-os [aos Céus não o mesmo mas um dia igual, e, estando volvido o tempo <strong>de</strong> um ano, a paixão consagrou o dia repetido 102 , e a graça <strong>de</strong>sta aliança obtém a eterna palma. 101 Trata-se, evi<strong>de</strong>ntemente, <strong>de</strong> Moisés e Aarão, a quem Deus confiou a libertação do cativeiro do Egipto (cf. Ex. 4 e 5). O cotejo entre Moisés e Aarão, irmãos <strong>de</strong> sangue, e Pedro e Paulo, irmãos pelo martírio, tem um alcance que vai além da libertação dos povos, aqui referida por <strong>Arátor</strong>. Na verda<strong>de</strong>, se Moisés e Pedro se assumiram como os primeiros chefes <strong>de</strong> dois povos, o israelita e o cristão, Aarão e Paulo <strong>de</strong>stacaram-se pela sua eloquência, imprescindível em ambos os casos. 102 Numa solenida<strong>de</strong> que remonta ao século III ou IV, a Igreja celebra os dois santos no dia 29 <strong>de</strong> Junho, data presumível do seu martírio. O poeta segue a tradição que afirmava terem sido ambos martirizados no mesmo dia, volvido exactamente um ano. A atestar estas afirmações <strong>de</strong> <strong>Arátor</strong>, Prudêncio, no poema Passio apostolorum Petri et Pauli (hino 12 do Peristephanon), <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> relatar o crucifixão <strong>de</strong> Pedro (vv. 11-20), narra o martírio <strong>de</strong> Paulo às mãos <strong>de</strong> Nero, dizendo: “Quando a órbita perfeita do círculo solar percorreu o trajecto <strong>de</strong> um ano completo / e o Sol, nascido <strong>de</strong> novo, trouxe o mesmo dia, / Nero lançou a sua raiva ar<strong>de</strong>nte contra o pescoço <strong>de</strong> Paulo: / or<strong>de</strong>na que seja sacrificado o mestre dos gentios” (vv. 21-24, tradução nossa). 110
111 Ep í s t o l a d E ará t o r a pa r t é n i o Ep í s t o l a d E ará t o r a pa r t é n i o