Arátor. História Apostólica - Universidade de Coimbra
Arátor. História Apostólica - Universidade de Coimbra
Arátor. História Apostólica - Universidade de Coimbra
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
450<br />
455<br />
460<br />
465<br />
<strong>Arátor</strong><br />
portador das sementes e, dizendo a verda<strong>de</strong>, usufrui <strong>de</strong> um erro<br />
que a ensina. Na verda<strong>de</strong>, caminha pela terra e cultiva-a<br />
este fecundo viajante, cujo trabalho a todos se <strong>de</strong>stina,<br />
para que o campo divino vá aumentando e o espírito humano,<br />
purificado, produza fruto, e não se suje com as ervas do joio<br />
quem <strong>de</strong>ve ostentar searas. A invejosa turba obriga-o<br />
a acompanhá-la até aos magistrados, a quem <strong>de</strong>clarou, em pé:<br />
“Filhos <strong>de</strong> Cécrope 37 , a quem a tradição celebra pelo hábil discurso<br />
florescente nos seus ginásios, on<strong>de</strong> o profundo amor pela novida<strong>de</strong><br />
sacrílega governa, verificámos que erigistes<br />
um altar ao <strong>de</strong>us <strong>de</strong>sconhecido, que formou os astros,<br />
que conce<strong>de</strong>u o mar e a terra, a quem a vida tem por autor,<br />
para nos po<strong>de</strong>rmos mover, <strong>de</strong> cuja chama nos animamos,<br />
<strong>de</strong> quem somos a imagem, sobre o qual cantaram os poetas<br />
que aí radica a espécie humana 38 , aquele que eu apregoo:<br />
‘Tudo consagrou pela sua palavra.’ 39 Porque chamais, então, divinas<br />
a estas imagens que fazeis e, livres <strong>de</strong> qualquer receio, tomais<br />
por auxílio celeste o que a terra gerou? A essência do metal<br />
jaz profunda nas vísceras da terra e, daí extraída, recebe<br />
o contributo do talento do artesão, quer daí provenham<br />
<strong>de</strong>uses para os templos ou potes para o lar; a arte que fabricou<br />
[os <strong>de</strong>uses<br />
é a origem do seu próprio temor, pois ninguém po<strong>de</strong> restringir<br />
37 Os Atenienses são chamados “Cecrópidas”, ou “filhos <strong>de</strong> Cécrope”,<br />
pois, segundo a lenda, foi este o primeiro rei <strong>de</strong> Atenas (vd., v.g., Suda,<br />
s.v. Kékrops [1272]). Pela mesma razão, também os Romanos são<br />
frequentemente apelidados Romulidas (vd., v.g., Verg. Aen. 8.638).<br />
38 O Apóstolo refere-se concretamente ao poeta Arato que, no<br />
verso 5 do primeiro livro dos Fenómenos, afirma: «Somos também<br />
da sua raça». Cf. também Act. 17.28.<br />
39 Cf. 1 Tim. 4.4-5: “Porque tudo o que Deus criou é bom [...],<br />
pois é santificado pela palavra <strong>de</strong> Deus e pela oração”.<br />
72