Cartas Do Brasil - Brasiliana USP
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MANUEL DA NOBREGA<br />
ficeis de desgastar, mas Deus remediou a isto com uma herva (31),<br />
cujo fumo muito ajuda á digestão e a outros males corporaes e a<br />
purgar a fleuma do estômago. Nenhum de nossos Irmãos a usa e<br />
nem assim os outros Christãos por não se conformarem com os Infiéis,<br />
que muito a apreciam. Teria delia precisão por causa da humidade<br />
e do meu catarrho, mas abstenho-me considerando non quid<br />
mihi utile est sed quod multis ut sálvi fiant.<br />
Até agora os negociantes e forasteiros não têm feito fazendas<br />
com medo de serem salteados pelos Gentios. Si vier mais gente e<br />
tiver segura a terra, espero em Jesus Christo que muitos e não<br />
perdidos fructos se farão em serviço de Deus com os Gentios os<br />
quaes se hão de baptisar.<br />
Dizem que aqui se encontrará grande quantidade de ouro que<br />
pelas poucas forças dos Christãos não está descoberto, e egualmen-<br />
(31) Damião de Góes (Chron. de D. Manoel, ed. de Lisboa, 1566-67,<br />
p. I a , cap. 56, ff. 52), tratando das hervas do <strong>Brasil</strong>, diz: "E a que chamamos<br />
do fumo e eu chamaria Herva Santa, a quem dizem que elles (índios)<br />
chamam Betun... Esta herva trouxe primeiramente a Portugal Luiz<br />
de Góes, que depois sendo viuvo se fez na índia dos da Companhia do nome<br />
de Jesu."<br />
Thevet, que esereve Petun, foi quem o introduziu em França e não Nicot<br />
(V. Gaffarei, na Not. biogr. que precede a nova ed. das Singularitez de Ia<br />
France Antarctique) .<br />
Hans Staden, esereve Bittin; Lery, Petun; Oardim (<strong>Do</strong> prin. e orig. dos<br />
Inã. ão <strong>Brasil</strong>, 1881, pg. 11), Petigma, e observa o Dr. Baptista Caetano<br />
na nota correspondente a esta palavra: "Muito freqüentemente o y guttural<br />
é expresso pelos portuguezes (inclusive Anchieta) por ig em vez de o ser por<br />
y, como posteriormente se tornou mais usado (até em Guarani). Pety ou<br />
petym ou petyma e também petum, é nome indígena da Nieotiana (tabaco) e<br />
o verbo brasiliense pitar vem evidentemente de pety ar (tomar ou chupar o<br />
petym) . A palavra pito, exprimindo "cachimbo", evidentemente vem do verbo<br />
pitar por um processo de derivação inteiramente á portugueza, tal e qual<br />
"cambio" de "cambiar", "mando" de "mandar", "castigo" de "castigar",etc.<br />
E' de notar-se que no Chillidugu ha púthem tabaco, puthemm pitar, fumar,<br />
(tomar o tabaco) e putyen queimar-se. O u do Chillidugu creio que é<br />
exaetamente o y do Abafieenga." Gabriel Soares diz: "Petuma é a herva a<br />
que em Portugal chamam santa." No Vocabulário guarani do XVI seeulo,<br />
ainda inédito, lê-se: Petigma (petyma), e no Dicc. Fort. Brás., Petyma.<br />
Montoya escreve Pety.<br />
Porto Seguro (Comm. á G. Soares, pg. 392), referindo-se a Luiz de<br />
Góes, accreseenta: "E de quem nenhum botânico tem feito caso até hoje,<br />
apesar do serviço que fez, muito maior do que Nicot."<br />
Luiz de Góes era irmão de Pero de Góes, com quem veiu ao <strong>Brasil</strong> para<br />
a donatária de Campos (P. Seg., Hist., pg. 194).<br />
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