Cartas Do Brasil - Brasiliana USP
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ANTÔNIO FRANCO<br />
pelos muitos roubos e mortes que tinham feito nelles. Com este<br />
zelo, pregando diante do capitão-mór Estacio de Sá e de toda sua<br />
armada, que elle exhortava a povoarem o Rio de Janeiro e aplacarem<br />
com penitencia a ira de Deus pelos roubos feitos aos índios<br />
da Bahia, que foram gravíssimos, captivando-os e vendendo-os,<br />
trouxe a historia dos Gabaonistas, que pediam sete da geração de<br />
Saul, para enforcarem e com isso se aplacar a ira de Deus; concluiu<br />
com grande vehemencia: Si agora tomasse sete destes ladrões<br />
salteadores que têm destruído os pobres índios da Bahia e de toda<br />
a costa, Nosso Senhor se aplacaria e seria favorável para esta empresa<br />
que queremos fazer.<br />
Estas e outras similhantes reprehensões e desenganos sabiam<br />
mal aos culpados e cubiçosos, principalmente porque em nenhuma<br />
maneira queria consentir em nenhum modo de captiveiro dos Brasis,<br />
salvo nos que fossem tomados com guerra justa. E assim dizia<br />
muitas vezes: "Não posso acabar com minha sciencia e consciência<br />
approvar os remédios que se buscam para captivar os Brasis, ainda<br />
que venha da Mesa da Consciência, porque lá não são informados<br />
na verdade. Porque nunca se achou que pae no <strong>Brasil</strong> vendesse<br />
filho verdadeiro, porque os amam grandissimamente. Os que<br />
dizem que se vendem a si mesmos, fazem-no ou porque não entendem<br />
que cousa é vender a liberdade, ou induzidos com mentiras e<br />
enganos e ás vezes com muitos açoites (como confessam os mesmos<br />
linguas do <strong>Brasil</strong>) e assim os pobres, achando-se alcançados, fogem<br />
e antes querem ir morrer por esses mattos e a mãos de inimigos<br />
que soffrerão grave captiveiro que têm.<br />
"Pois obrigal-os a servir toda a vida com o titulo de livres,<br />
é verdadeiro captiveiro, porque não tem mais que o nome de liberdade,<br />
pois os deixam em testamento aos filhos que os sirvam<br />
toda a sua vida e assim os avaliam e vendem como escravos, com<br />
titulo de lhes venderem somente o serviço." Equidquiã sit de jure,<br />
dizia elle que de facto constava o contrario: pois os homens per-,<br />
vertiam os remédios que se lhes buscavam, usando delles para sua<br />
perdição, e, si dous timoratos cumpriam as condições que se punham,<br />
a maior parte as não guardava, e finalmente os Padres lettrados<br />
nisso se vêm a resolver, ensinados pela experiência.<br />
Comtudo isto não deixava o Padre de buscar todo o remédio<br />
possivel a algumas pessoas que lhe pediam para restituição e satisfação<br />
do passado.<br />
Porém para o futuro nunca de sua parte quiz abrir porta para<br />
se usar de semelhantes remédios, que se buscavam para os homens<br />
ter serviços com boa consciência, comprando e vendendo índios<br />
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