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Cartas Do Brasil - Brasiliana USP

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VIDA DE NOBREGA<br />

tre elles o padre Vicente Rodrigues ia continuando com doença de<br />

um anno. Vendo isto o padre Nobrega lhe disse um dia com grande<br />

espirito: "Padre Vicente, o bem das almas tem necessidade de<br />

vós; portanto vos ordeno em virtude de santa obediência, lanceis<br />

fora essa doença e vades acudir a nossos ministérios." Foi cousa<br />

estupenda que no mesmo ponto ficou o Padre são e com suas forças,<br />

e começou a trabalhar como si por elle não tivesse passado<br />

tão prolongada enfermidade.<br />

No anno de 1551, tendo mandado dous obreiros á capitania do<br />

Espirito Santo, se determinou elle em pessoa a ir a Pernambuco,<br />

que é uma das principaes regiões do <strong>Brasil</strong>; levou por companheiro<br />

ao padre Antônio Pires. A terra estava mui estragada de<br />

vícios: para isto se entender melhor, bastam as palavras seguintes<br />

de uma carta do padre Nobrega: "Os clérigos d'esta terra têm<br />

mais officio de demônios que de clérigos; porque além de seu mau<br />

exemplo e costumes, querem contrariar a doutrina de Christo, e dizem<br />

publicamente aos homens que lhes é licito estar em peccado<br />

com suas negras, pois que são suas escravas, e que podem ter os<br />

salteados, pois que são cães, e outras cousas similhantes, por escusar<br />

seus peccados e abominações, de maneira que nenhum demônio<br />

temo agora que nos persiga, sinão estes. Querem-nos mal, porque<br />

lhes somos contrários a seus maus costumes e não podem soffrer<br />

que digamos as missas de graça em detrimento de seus interesses.<br />

Cuido que, si não fora pelo favor que temos do Governador<br />

e principaes da terra, e porque Deus não o quer permittir, que<br />

nos tiveram já tiradas as vidas."<br />

Bem se vê destas palavras quaes eram os curas das almas e<br />

quaes seriam as almas * curadas; pois a todos, segundo a opinião<br />

dos seus Curas, era licito usar mal de suas escravas e eaptivar os<br />

índios. Estes dous pontos deram muito que fazer ao santo varão.<br />

Os que estavam enredados com peccados tão horrendos se defendiam<br />

com a doutrina dos seus clérigos, a qual julgavam elles<br />

lhes estava mais a conto, dizendo, que sem índios e índias ficavam<br />

perdidos e sem remédio.<br />

Começou logo o Padre a batalhar contra estas enormidades,<br />

em que houve muita emenda. <strong>Do</strong>s clérigos teve o Padre tamanha<br />

perseguição e dos que se acostavam a elles, que, si não foram reprimidos<br />

dos homens principaes que o abrigavam, ou seria morto<br />

ou lançado fora da terra. Os índios das aldeias o convidaram para<br />

que os fosse fazer christãos. Instruiu bem e baptisou a cem delles<br />

que pudessem ser como mestres dos mais, por assim poder com<br />

melhor commodo acudir aos muitos que se queriam converter. Depois<br />

de assentar o melhor que poude as cousas em Pernambuco,<br />

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