Cartas Do Brasil - Brasiliana USP
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CARTA DO BRASIL (1552)<br />
comnosco, até que lhe cercaram umas boas casas, em que agora está;<br />
e muito benigno e zeloso, e mostra-se nelle bem ter amor, e sentir as<br />
cousas da Companhia; pregou dia de S. Pedro e S. Paulo com<br />
muita edificação, com que muito ganhou os corações de suas ovelhas;<br />
eu trabalharei sempre por lhe obedecer em tudo, e elle não<br />
mandará cousa, que prejudique a nosso Instituto e bem da Companhia.<br />
O Bispo determina occupar-nos na visitação das capitanias, e<br />
^gora neste navio encarrega ao padre Antônio Pires, que está em<br />
Pernambuco (36), até elle ir visitar; e, considerando eu a obediência<br />
que lhe devo ter, e não nos occupar mais que inquerir e admoestar,<br />
a não julgar ninguém nem tomar conhecimento de coisas,<br />
e a falta que disso ha de homens, e assim esta primeira vez ha de<br />
ser tudo por amor, me determino fazel-o por me parecer muito serviço<br />
de Deus Nosso Senhor; si Vossa Reverendissima lhe não parecer<br />
bem, escreva-lhe que não nol-o mande; porque diz que Vossa Reverendissima<br />
lhe disse que nós o ajudariamos nisto.<br />
Este collegio dos meninos de Jesus vai em muito crescimento,<br />
e fazem muito fructo; porque andam pelas aldeias com pregações<br />
e cantigas de Nosso Senhor pela lingua, que muito alvoroça a todos,<br />
do que largamente se escreverá por outra via; o mantimento e vestiaria,<br />
que nos El-Rei dá, todo lh'o damos a elles, e nós vivemos de<br />
esmolas, e comemos pelas casas com os criados desta gente principal,<br />
o que fazemos por que se não escandalizem de fazermos roças e termos<br />
escravos, e para saberem que tudo é dos meninos.<br />
O Governador ordenou de dar a dez (37) que viemos de Portugal<br />
um cruzado em ferro cada mez, para a mantença de cada um,<br />
e cinco mil e seiscentos réis para vestir cada anno, com o qual nenhuma<br />
roupa se poderá fazer nesta terra; e porém eu não lhe puz<br />
groza, porque nem ainda esse merecemos.<br />
Já tenho escripto sobre os escravos que se tomaram, dos quaes<br />
(36) Nobrega deixou Pernambuco em Janeiro de 1552, como declara<br />
Antônio Pires em carta de 5 de Julho do mesmo anno. Chegou á Bahia em<br />
Março, segundo Franco (Imag. ão Coll. ãe Coimbra, II, pg. 17).<br />
(37) Os seis primeiros já ficaram indicados; os outros quatro vieram<br />
em 1550 e foram os padres Salvador Rodrigues, Manuel de Paiva, Affonso<br />
Braz e Francisco Pires.<br />
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