17.04.2013 Views

Cartas Do Brasil - Brasiliana USP

Cartas Do Brasil - Brasiliana USP

Cartas Do Brasil - Brasiliana USP

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ANTÔNIO FRANCO<br />

presa O padre Nobrega como tinha por mui certo ser vontade<br />

de Deus esta empresa e grandíssima confiança, por nao dizer certesa<br />

que se havia de povoar o Rio, se poz contra todos com mvenciveí<br />

constância, assim nas pregações como em praticas particulares.<br />

Ia muitas vezes de S. Vicente a outra villa, que distava dahi<br />

duas léguas, onde estava o Capitão-mór, a esforçal-o e animal-o,<br />

ajudando em tudo. Por esta causa era murmurado de todos. Tanto<br />

que chegava, logo começavam quasi em sua presença a dizer í<br />

Cá vem o tyranno, demônio, Pharaó, que nos tem quasi captivos.<br />

Estas cousas e ditos fazia o Padre que não ouvia, continuando<br />

sem affrouxar em nada; antes levou o Capitão-mór com alguns<br />

dos mais honrados á nossa casa de S. Vicente, onde os agasalhou<br />

com todo o necessário alguns dias, instruindo o Capitão-mór no<br />

que havia de fazer, dando-lhe animo, tanto 'assim, que dizendo uma<br />

vez o Capitão: Que conta darei a Deus e a El-rei, se deitar a perder<br />

esta armada? Lhe respondeu o Padre: Eu darei conta a Deus<br />

de tudo e si fôr necessário, irei deante d'El-rei a responder por<br />

vós.<br />

Não contente com isso, levou-o com muitos dos seus a Piratininga,<br />

onde havia mais abundância de mantimentos: alli os proveu<br />

muitos dias com o de casa e mandou mensageiros aos Principaes<br />

do sertão, que ainda estavam de guerra, dando-lhes seguro<br />

da parte do Capitão-mór que viessem a fazer pazes. Elles vieram<br />

e as fizeram e tornou a ficar o sertão quieto, como antes: d'onde<br />

se seguiu também virem muitos a receber o santo baptismo.<br />

A todos os moradores que via com alento, incitava para esta<br />

empresa. A outros que pediam por terem gente e familia, emprestava<br />

dinheiros da esmola que dava El-rei á casa. A alguns grandes<br />

de outras capitanias que poderiam obrar muito na empresa,<br />

porque pretendiam escrúpulos de consciência com restituições que<br />

deviam antepor a outros gastos, levava-os á casa; alli os tinha com<br />

muito bom tratamento, confessava-os, dava-lhes remédio. Desta maneira<br />

andou o santo varão tendo mão em todos. Mandaram-se juntamente<br />

alguns barcos á Bahia e á capitania do Espirito Santo por<br />

mantimentos, fazendo-se outros na terra e também canoas. Esforçou<br />

os mancebos mestiços que eram valentes e aos índios. Todos<br />

lhe obedeciam. Nesta fôrma se moveram muitos, uns para irem<br />

conquistar, outros para ficarem logo povoando.<br />

Neste tempo não deixava de ajudar a todos os que tinham negócios<br />

e culpas deante do Ouvidor Geral, que também acompanhava<br />

o Capitão-mór, fazendo dar remédio a todos e promettendO<br />

perdões da parte do governador Men de Sá; tudo ao depois cumpria.<br />

Com ajuda de Deus e zelo incansável, acabou de vencer todos<br />

5 2

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!