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Cartas Do Brasil - Brasiliana USP

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MANUEL DA NOBREGA<br />

Estas cousas todas e outras desta qualidade que o Governador<br />

não consinte e outras que faz, conformando-se comnosco no que<br />

nos parece gloria de Deus e bem das almas e proveito da terra,<br />

engendram escândalo em todos e tumulto no povo contra elle e<br />

contra nós, porque sempre no serviço de Nosso Senhor ha cousas<br />

contrarias ao que pretendem de seus interesses e a estas acerescentam<br />

mil falsidades e mentiras que levantam, porque assim é cos-<br />

J;ume do povo, quando está mal affeiçoado.<br />

f Agora entram os queixumes.que eu tenho de^J^arçia d^Avila:<br />

é elle um homem com quem eu mais me alegrava e consolava nesta<br />

terra, porque achava nelle um rasto do espirito e bondade de<br />

V. Mercê de que eu sempre muito me contentei, e com o ter cá me<br />

alegrava, parecendo-me estar ainda Thomé de Sousa nesta terra.<br />

Tinha elle uns índios perto de sua fazenda. Quando o Governador<br />

os ajunctava, pediu-me elle lhe alcançasse do Governador que<br />

lb'os deixasse, promettendo elle de os meninos irem cada dia á<br />

eschola a S. Paulo, que estava meia légua delle, e os mais iriam<br />

aos domingos e festas á missa e pregação. Concederam-lhe; mas<br />

elle teve mau cuidado de o cumprir, sendo de mim muitas vezes<br />

admoestado, antes deixava viver e morrer a todos como Gentios;<br />

e tinha alli um homem que lhe dava pouco por elle nem os escravos,<br />

e muito menos o Gentio irem á missa. Pelo qual fui forçado<br />

de minha consciência a pedir que os ajunctassem com os outros em<br />

S. Paulo, e posto que ainda lh'os não tiraram, comtudo elle muito<br />

se escandalisou de mim, assim que, nem a elle, nem a outro nenhum<br />

já tenho nem quero mais que a Deus Nosso Senhor e a razão<br />

e justiça, si a eu tiver.<br />

Também começou a entender com os do Para açú e com os<br />

da ilha de Tapariqua, que são todos uns; e isto por razão dos escravos<br />

dos Christãos que para elles fugiam e não os davam e isto<br />

contentou a todos, porque lhes tocava em seu proveito. Os de Tapariqua<br />

obedeceram, mas os do Pera açú muitos delles não quizeram<br />

paz nem dar os escravos, antes tomaram um barco de Pero<br />

Gonçalves (*), de S. Thomé, com ferramenta que levava, e os negros<br />

(*) A este Pero Gonçalves, ou outro de igual nome, declarou Men de<br />

Sá em seu testamento, Varnhagen, Historia Geral, I, 450, 4 a ed., dever seis<br />

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