Cartas Do Brasil - Brasiliana USP
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ANTÔNIO FRANCO<br />
sua partida nenhum lhe ficava sinão ser muito vexado do Capitão<br />
.<br />
CAPITULO IX<br />
Da charidade que o padre Nobrega tinha com os da Companhia^<br />
culto das cousas santas, devoção e lagrimas.<br />
\\3o grande zelo da conversão dos Brasis ajuntava outro que<br />
lhe era conseqüente, convém a saber: grandíssimo cuidado<br />
e diligencias de criar Irmãos da Companhia que pudessem ser instrumento<br />
desta conversão.<br />
Por esta causa ajuntava em casa moços pequenos mestiços e<br />
outros de todo Portuguezes, nascidos na terra, por serem linguas.<br />
E trabalhava pelos fazer chegar até onde alcançasse sua habilidade,<br />
assim no espirito como no estudo, e por não deixar cousa por<br />
intentar para este fim, determinava mandar a Portugal alguns de<br />
melhor indole e habilidade, para que de lá viessem feitos bons obreiros,<br />
como em effeito mandou dois que morreram na Companhia,<br />
no Collegio de Coimbra.<br />
Era para com os Irmãos muito benigno e piedoso e pelas entranhas<br />
de amor com que os amava, sempre conservou a santa sinceridade<br />
antiga de Coimbra, falando a todos por vós; e além de<br />
lhe ser muito trabalho só de pronunciar este nome Podre, pelo impedimento<br />
da lingua, parece que o nome de Irmão lhe excitava<br />
mais amor e assim aos mesmos Padres fallava por estes termos dizendo<br />
: Irmão, vós tal e tal. E posto que os homens de fora cuidavam<br />
que tratava com os Irmãos asperamente, pelo zelo que nelle<br />
conheciam, comtudo a benignidade passava sempre pela severidade<br />
para com elles, assim nas reprehensões e penitencias como nas<br />
praticas espirituaes, que fazia a miúdo com muita suavidade e<br />
lágrimas.<br />
Com as mesmas entranhas de charidade procurava todo o possivel<br />
de conservar um na Companhia depois de admittido, ainda<br />
que não tivesse tantas partes e outros tivessem diverso parecer,<br />
confiando sempre em que não estava abreviada a mão de Deus.<br />
Um moço de boa habilidade tinha elle admittido quando chegou a<br />
S. Vicente o Padre Visitador Ignacio de Azevedo, o qual querendo-o<br />
despedir com parecer do Padre Provincial e de outros, com<br />
tudo o padre Nobrega com sua charidade intercedeu por elle, resignado,<br />
porém, na vontade e parecer do Padre Visitador, e tratou<br />
com elle que o levasse para a Bahia, porque lhe dava Nosso Senhor