Cartas Do Brasil - Brasiliana USP
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CARTA DO BRASIL (1549)<br />
têm guerra com outros e assim andam todos em discórdia, comemse<br />
uns a outros, digo os contrários. E' gente que nenhum conhecimento<br />
tem de Deus. Têm Ídolos (5), fazem tudo quanto lhes dizem.<br />
Trabalhamos de saber a lingua delles e nisto o padre Navarro<br />
nos leva vantagem a todos (6). Temos determinado ir viver com<br />
as aldeias, como estivermos mais assentados e seguros, e aprender<br />
com elles a lingua e il-os doutrinando pouco a pouco. Trabalhei<br />
por tirar em sua lingua as orações e algumas praticas de Nosso Senhor<br />
e não posso achar lingua que m'o saiba dizer, porque são elles<br />
tão brutos que nem vocábulos têm. Espero de as tirar o melhor que<br />
puder com um homem (7) que nesta terra se criou de moço, o qual<br />
agora anda mui occupado em o que o Governador lhe manda e não<br />
está aqui. Este homem com um seu genro (8) é o que mais confirma<br />
as pazes com esta gente, por serem elles seus amigos antigos.<br />
Também achamos um Principal delles já christão baptisado,<br />
o qual me disseram.que muitas vezes o pedira, e por isso está mal<br />
com todos os seus parentes. Um dia, achando-me eu perto delle, deu<br />
uma bofetada grande a um dos seus por lhe dizer mal de nós ou<br />
cousa similhante. Anda muito fervente e grande nosso amigo; demos-lhe<br />
um barrete vermelho que nos ficou do mar e umas calças.<br />
Traz-nos peixe e outras cousas da terra com grande amor; não tem<br />
ainda noticia de nossa Fé, ensinamo-lh'a; madruga muito cedo a<br />
(5) E' o que se lê no cód. msc. da Bibl. Nac; mas os índios da costa<br />
não tinham ídolos, como se vê da 9* carta e de muitos outros documentos<br />
contemporâneos. Houve, pois, erro de cópia.<br />
(6) "Foi o primeiro que poz na lingua brasiliea algumas orações e<br />
diálogos da nossa santa Fé." S. de Vasc, Chron., 1. I, n° 48.<br />
(7) Diogo Alvares, o Caramurú.<br />
(8) Provavelmente Paulo Dias Adorno. V a carta publ. por Porto<br />
Seguro, Hist Ger. ão <strong>Brasil</strong>, pg. 236 e a nota 2 da pag. 239. [Tomo I, pg.<br />
297/298, 4" ed. ] . A noticia do achado do doe. foi publ. no Diário Official de<br />
13 de Dezembro de 1872 e não Novembro, como diz a nota 1 da pag. 237 da<br />
Hist. Geral. Jaboatão já o conhecia e o transcreve no seu Catalogo genealogico,<br />
1768, [Publ. na Bevista ão Instituto, LII, parte I o ], declarando á margem:<br />
"Acha-se no Liv. 4 de Serviços da Camera da B". foi. 24, e ahi as certidões<br />
dos Tabeliães, que as reconhecerão." Cândido Mendes (Bev. ão Inst.,<br />
XL, 1877, p. 2 a , pg. 20) duvida da sua authenticidade.<br />
Segundo Fr. Vicente do Salvador (Hist. ão Brás., liv. 3 o , cap. 10),<br />
Paulo Dias era commendador de Santiago e esteve na conquista do Rio de<br />
Janeiro com Estacio de Sá. [Ed. de 1918, pg. 178]. — G.<br />
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