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Cartas Do Brasil - Brasiliana USP

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CARTA DO BRASIL (1560)<br />

lhe inspirava; e foi assim que a uns por vergonha, a outros por<br />

vontade, lhes pareceu bem de commetterem a fortaleza.<br />

A segunda maravilha de Nosso Senhor foi que, depois de combatida<br />

dous dias (100), não se podendo entrar e não tendo já os<br />

nossos pólvora, mais que a que tinham nas câmaras para atirar;<br />

e tratando-se já como se poderiam recolher aos navios sem os matarem<br />

todos, e como poderiam recolher a artilharia que haviam<br />

posto em terra, sabendo que na fortaleza estavam passante de sessenta<br />

Francezes de peleja, e mais de oitocentos índios (101) e que<br />

eram já mortos dos nossos dez ou doze homens com bombardas e<br />

espingardas, mostrou então Nosso Senhor sua misericórdia, e deu<br />

tão grande medo nos Francezes e nos índios que com elles estavam,<br />

que se acolheram da fortaleza e fugiram todos, deixando o que tinham<br />

sem o poderem levar (102).<br />

(100) A 15 de Março accommetteu Men de Sá os Francezes. (Carta<br />

cit.) O Governador escreve: "E naquelle dia entramos a ilha, onde está a<br />

fortaleza posta, e todo aquelle dia e o outro pelejamos sem descançar de dia<br />

nem de noite, até que Nosso Senhor foi servido de a entrarmos com muita<br />

victoria e morte dos contrários e dos nossos poucos; e si esta victoria me não<br />

tocara tanto, poderá affirmar a Vossa Alteza que ha muitos annos que se<br />

não faz outra tal entre Christãos; porque posto que vi muito e li menos, a<br />

mim me parece que se não viu outra fortaleza tão forte no Mundo."<br />

(101) Men de Sá na carta citada diz: "Havia nella 74 Francezes ao<br />

tempo que cheguei e alguns escravos; depois entraram mais de 40 dos da<br />

nau e outros que andavam em terra e havia muito mais de mil homens dos do<br />

Gentio da terra, tudo gente escolhida e tão bons espingardeiros como os Francezes;<br />

e nós seriamos 120 homens Portuguezes e 140 dos do Gentio, os mais<br />

desarmados e com-pouca vontade de pelejar: a armada trazia 18 soldados<br />

moços que nunca viram pelejar."<br />

O Governador escreveu a El-Rei logo depois da conquista, como diz em<br />

outra carta também escripta do Rio de Janeiro a 31 de Março (e não 30<br />

como se lê em Porto Seguro, Hist., pg. 294), ainda inédita e da qual possue<br />

cópia a Bibl. Nac. A carta em que dá conta da vietoria, provavelmente<br />

com todos os pormenores, porque foi escripta sob a impressão da lucta, deve<br />

ser muito interessante, mas infelizmente não se sabe onde pára. Nesta carta<br />

também conta Men de Sá o que lhe suecedeu na guerra que teve com o Gentio<br />

de Paraguaçú, segundo declara. — [A carta de Men de Sá para El-rei, datada<br />

do Rio de Janeiro, derradeiro de Março (1560), está publicada nos Annaes<br />

ãa Bibliotheca Nacional, XXVII, 227/229]. — G.<br />

(102) Como se vê, os Francezes não capitularam, como dizem o Visconde<br />

de Porto Seguro (Hist., pg. 289) e Popellinière, segundo Gaffarel<br />

(Hist. ãu Brésil Trancais, pg. 313). Entretanto Porto Seguro conhecia e<br />

cita as cartas de Nobrega a Men de Sá. Da carta deste que é a mesma que<br />

chama de officio e que vem como de 19 de Junho, evidente lapso typographico,<br />

provavelmente conheceu as edições de Pizarro e Silva Lisboa, edições<br />

225<br />

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