Cartas Do Brasil - Brasiliana USP
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MANUEL DA NOBREGA<br />
Esta terra é tão pobre ainda agora, que dará muito desgosto<br />
aos officiaes de Vossa Alteza que lá tem com terem muito gasto,<br />
e pouco proveito ir de cá, maiormente aquelles, que desejam mais<br />
irem de cá muitos navios carregados de ouro, que para o Ceu,<br />
muitas almas para Christo; si se não remediar em parte, com Vossa<br />
Alteza mandar moradores que rompam e queiram bem á terra,<br />
e com tirar officiaes tantos e de tantos ordenados, os quaes não querem<br />
mais que acabar seu tempo e ganhar seus ordenados, e terem<br />
alguma acção de irem importunar a Vossa Alteza; e como este é<br />
seu fim principal, não querem bem á terra, pois têm sua affeição<br />
em Portugal; nem trabalham tanto para favorecer como por se<br />
aproveitarem de qualquer maneira que puderem; isto é geral, posto<br />
que entre elles haverá alguns fora desta regra.<br />
Accrescentam-se agora gastos de Bispo e Cabido, o que a terra<br />
neste principio não poderá sustentar juntamente com os officiaes:<br />
bastava cá um Governador com um Ouvidor Geral, sem assignaturas<br />
para não haver muitas demandas, e pouco mais para tudo o<br />
que ao presente na terra ha por fazer, porque não sei que parece<br />
haver officiaes de 200$000, com fazerem pouco mais de nada, dos<br />
dizimos da Egreja, e os Padres morrerem de fome, com rezarem<br />
todo o dia; o mais do que aproveitaram até agora foi de representarem<br />
gente, elles e seus criados, o qual bem se excusára, si vieram<br />
moradores: algumas vezes cuido quão bem empregada seria,<br />
entretanto que a terra ajuda mais dar, Vossa Alteza uma egreja<br />
ao Bispo e Cabido do mestrado de Christo ou Santiago, pois é tanto<br />
para serviço do mesmo Christo.<br />
Temos por nova que manda Vossa Alteza ir para o anno a<br />
Thomé de Sousa; obriga-me Nosso Senhor a dizer o muito que temo<br />
vir outro, que destrua isso pouco que está feito, e que favoreça<br />
mais os peccados, vicios que este, e que queira ir aproveitado á<br />
custa da terra; sei que folgará muito de viver nesta terra si cá tivesse<br />
sua mulher, ainda que não fosse Governador, si uma filha que<br />
tem a tivesse casada. Isto tudo não sei como possa ser; os meus<br />
desejos em Nosso Senhor são que ou elle se não vá, ou façam lá outro<br />
por elle: porque o maior mal que lhe achamos é ser mais amigo<br />
da Fazenda um pouco de Vossa Alteza do que deve; ao menos,<br />
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