Cartas Do Brasil - Brasiliana USP
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VIDA DE NOBREGA<br />
cia, que alli o deixou falto do corporal, mas mui cheio de consolações<br />
espirituaes. *<br />
Sentindo elle muito antes que se lhe acabava a vida, assim o<br />
escreveu a S. Vicente. Quanto mais se lhe chegava o tempo, tanto<br />
mais se chegava a Deus, recolhendo-se com as meditações de Santo<br />
Agostinho e gastando muita parte do dia em colloquios e suspiros,<br />
porque era mui terno, devoto e fácil nas lagrimas. <strong>Do</strong>is dias ou<br />
três antes de seu fallecimento se andou pela cidade despedindo dos<br />
amigos e devotos da Companhia: perguntando-lhe elles onde queria<br />
ir, pois não havia no porto embarcação? Respondia: A' nossa pátria<br />
celestial.<br />
Sobrevieram-lhe umas grandes dores causadas do sangue, que<br />
havia muito tempo se lhe não sangrava. Cahiu em cama, onde esteve<br />
só um ou dous dias. Logo se preparou com os Sacramentos que<br />
no tal aperto se costumam receber. Chamou um Padre dando-lhe<br />
muita pressa, para que logo o ungisse. Recebida a extrema unção,<br />
disse a um dos Padres que dissesse logo missa, antes que elle expirasse<br />
e o outro ficasse para depois.<br />
D'ahi a pouco espaço de tempo, lançando um pouco de sangue<br />
corrupto pela bocca, deu seu espirito ao Senhor, em 18 de Outubro<br />
de anno de 1570, dia de S. Lucas, no qual dia elle nasceu. O<br />
santo padre Anchieta tem que nelle entrara também na Companhia;<br />
mas o que disse no principio desta vida, é o que consta dos livros<br />
das entradas dos noviços do Collegio de Coimbra.<br />
Foi sua morte mui sentida, porque era como pae de toda aquella<br />
nova cidade do Rio de Janeiro, em cujo Collegio falleceu e na sua<br />
Igreja foi sepultado, entre as lagrimas de seus filhos e dos seus<br />
índios e Portuguezes, que muito o amavam. Era este grande homem<br />
como pae universal das christandades do <strong>Brasil</strong>, que viu copiosamente<br />
fundadas e feitas numerosas aldeias de gente bruta<br />
trazida dos matos, onde vivia a modo de feras e a viu cultivada<br />
com costumes christãos. Agora direi com mais especialidade os<br />
exemplos de suas virtudes.<br />
CAPITULO VIII<br />
<strong>Do</strong> amor e charidade que tinha a seus próximos e aos inimigos.<br />
/•A-rá agora fui seguindo um como discurso da vida do padre<br />
Nobrega, contando seus santos e virtuosos empregos; agora<br />
referirei os exemplos das virtudes christãs e religiosas que delle<br />
nos ficaram em memória. Escreveu-as o admirável padre Joseph<br />
de Anchieta.<br />
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